sábado, 5 de dezembro de 2020

Gripezinha?

 


        Estava aqui absorto num turbilhão de inúmeros pensamentos, meditando uma solução mágica para resolver todos os problemas da humanidade, inicialmente os meus, é claro, inclusive, e principalmente, em relação aos ansiosos credores, quando recebi, via WhatsApp, uma chamada de vídeo de um bom amigo meu lá do Norte brasileiro.

 

          Esse antigo companheiro de algumas jornadas, tinham me dito, estava internado num hospital de Porto Velho, com diagnóstico de COVID-19. Qual, então, não foi minha surpresa ao vê-lo, na imagem de boa resolução da ligação telefônica, deitado numa rede no quarto da casa dele, com a barba de alguns dias já cheia de fios brancos, mas com o mesmo rosto redondo de quem tem um apetite, digamos, bem crescido.

 

          O cidadão, então, me relatou o drama que havia vivenciado, sem conseguir esconder a alegria (num determinado momento, com a emoção de falar engasgado e lágrimas nos olhos) de estar vivo, pois chegou a pensar, segundo me disse, que não iria mais rever a família, ao menos de corpo presente, tal a situação enfrentada.

 

          Ele, a mulher e a filha, dias antes, já haviam sido contaminados pelo novo coronavírus, mas fizeram um tratamento caseiro e acharam que estava tudo resolvido. Entretanto, voltou a sentir dificuldade para respirar (“andar até o banheiro me cansava”, afirmou) e foi internado com 60% do pulmão direito comprometido. Direto para a UTI, onde dividiu o espaço com mais dez pessoas, sendo uma do sexo feminino, todas com o mesmo diagnóstico de insuficiência pulmonar.

 

          Em três dias, ele viu sete pacientes, inclusive a mulher, sendo intubados e, mesmo assim, não aguentando, falecerem. Numa determinada manhã, disseram que também passaria por aquele procedimento. Assustado com o alto índice de óbitos presenciados, recusou aquela alternativa. Propuseram, então, um jeito diferente, que não soube me detalhar, mas que consistiu, basicamente, em colocarem uma máscara fechada ao redor do seu rosto, que impedia-o até de abrir a boca, e injetar oxigênio direto dentro do nariz durante aproximadamente 120 minutos, com três repetições ao longo de 24 horas.

 

Acho que foi assim, se entendi direito. Na internet, tem uma página do Governo do Estado do Pará (http://www.saude.pa.gov.br) que fala no uso de máscaras de mergulho para realização da ventilação não invasiva, “pois ajudam a recuperar a função pulmonar dos pacientes, reduzindo a necessidade de ventilação mecânica invasiva. E isso diminui o tempo que o doente fica internado na UTI”, nas palavras do fisioterapeuta da Santa Casa do Pará, Reinaldo Ferreira.

 

Outra página eletrônica, essa no endereço https://www.tuasaude.com/ventilacao-nao-invasiva/, explica que “a ventilação não-invasiva, mais conhecida como VNI, consiste em um método para ajudar na respiração de uma pessoa, através de aparelhos que não são introduzidos no sistema respiratório, como é o caso da entubação, que precisa de ventilação mecânica, também chamada de respiração por aparelhos. Este método funciona facilitando a entrada de oxigênio pelas vias aéreas devido à uma pressão de ar, que é aplicada com auxílio de uma máscara, que pode ser facial ou nasal”.

 

          Segundo relato do meu camarada, a sensação era como se ele estivesse se afogando, não por falta, mas por excesso do ar essencial à vida, com uma enorme confusão mental. Quis se desesperar, mas buscou no íntimo do seu ser o que há de mais firme em suas convicções espirituais e pediu às forças divinas superiores amparo para que pudesse vencer mais aquela batalha. Foi atendido, o método escolhido deu certo e ele recebeu alta, pouco mais de 36 horas após, voltando para o lar com a certeza de que estava tendo uma segunda oportunidade, a vida renascida.

 

          Confesso que me impressionei ao conversar com esse meu amigo, não só pelo drama enfrentado, mas também por causa da informação de quem estava lá dentro de uma unidade hospitalar que muitas pessoas ainda estão morrendo em consequência da COVID-19. Números, sabemos, às vezes escondem a realidade e são frios, mas quem viu de perto todo o horror de uma doença, até aqui, inexplicável, e transmite o que passou para os mais próximos, torna qualquer projeção estatística numa coisa menos distante, quase tangível.

 

          Gripezinha? É como diz o ditado: pimenta no olho dos outros é refresco.

 

          Que Deus nos livre e guarde de todo mal!

 

         

 

         

 

         

 

         

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