Drama
aéreo
Era um longo voo noturno de mais de seis
horas de duração entre Belo Horizonte e Manaus.
Tudo transcorrendo dentro da
normalidade, até que em determinado momento, já sobrevoando a hileia amazônica,
a voz da comissária chefe da equipe de bordo quebra o silêncio e, entre soluços
e choro controlado, anuncia que todos deveriam permanecer em seus respectivos
lugares, apertarem o cinto de segurança e se posicionarem com a cabeça entre as
pernas porque a aeronave iria fazer um pouso de emergência no meio da floresta.
Gritos de alarme e medo tomaram conta da
cabine de passageiros, surpreendidos com a informação. Um dos viajantes,
perdendo o controle do esfíncter anal, colocou para fora todo o seu pavor na
forma de material sólido não absorvido pelo organismo. Naturalmente, o fedor
característico daquele tipo de produto espalhou-se no espaço vedado do avião,
onde não se podia nem abrir uma janelinha para entrar um vento.
Numa tentativa de amenizar aquele drama,
como quem faz um comentário casual, um companheiro de infortúnio levantou-se e
disse num tom suficiente para que todos escutassem:
- Pessoal, não vamos inverter a ordem
natural das coisas. Primeiro tem que morrer, para depois apodrecer.
A “piada” não fez sucesso e como, não se
sabe de que maneira, o piloto conseguiu controlar a situação, pousando
normalmente na pista e não entre árvores, no desembarque o humorista
desajeitado teve que enfrentar olhares tipo facas, granadas e raios, como se
fosse ele o culpado pela experiência assustadora que tinham vivenciado.
Às vezes, o melhor mesmo é ficar calado.
Barraco
na ambulância
O paciente estava internado com dengue
hemorrágica num hospital e, sem maiores explicações, foi transferido para
outro.
Transferido é modo de dizer. Na verdade,
ele foi deixado na porta da segunda casa de saúde e a ambulância que o havia
levado seguiu em frente. Nenhum encaminhamento havia sido feito.
Inconformada, à acompanhante do doente
não restou alternativa a não ser iniciar, novamente, uma via sacra em busca de
atendimento. Depois de quase uma hora de peregrinação e espera, ela vislumbrou
uma solução.
Outra ambulância encostou na entrada de
emergência. Mais do que depressa, agarrou-se na porta do veículo e armou aquele
barraco. Aos gritos, disse que não sairia dali, a não ser que seu marido fosse
atendido imediatamente ou, então, colocado novamente numa ambulância e voltasse
para o centro clínico de onde viera.
A turma do “deixa disso”, mantendo a distância
regulamentar do isolamento social de dois metros, não conseguiu convencê-la.
Assim, mais do que depressa, após alguns momentos de tensão, apareceu uma
enfermeira, colheu sangue do dengoso e providenciou o necessário para que novo
internamento fosse feito.
O irmão, a quem havia pedido auxílio,
chegou quando o clima já tinha desanuviado, mas ela, desabafando a pressão
suportada, caiu em seus braços e chorou copiosamente. Ele, por sua vez,
lembrando das recomendações médicas relativas à quarentena, virou o rosto um
pouco para o lado para não haver troca de odores respiratórios.
Só uma precaução básica, nada pessoal.
EM
TEMPO:
Esses relatos me foram passados como
sendo absolutamente verdadeiros.
Ambos os dois conjuntamente, se me
permitem essa redundância brincalhona.
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