quarta-feira, 25 de março de 2020

Quarentena (2)




           Continua a batalha contra o coronavírus.

        Impressionante como numa hora dessa, enquanto o povo dá inúmeras demonstrações de solidariedade comunitária, os governantes continuam com armações e desentendimentos, tudo de olho em benefício próprios, eleições futuras e acordos espúrios.

    Beira as raias do absurdo o descontrole público entre as diversas esferas governamentais, cada uma remando para um lado, como se, assim, o barco fosse sair do lugar. A população faz o papel do marisco na briga do mar com o rochedo. Quase inacreditável.

          O desencontro de informações é tamanho que não se sabe mais em quem acreditar, principalmente quando o (mau) exemplo é daquele (cujo nome não se pode pronunciar) de quem se esperava alguma, mínima que fosse, demonstração de equilíbrio, capacidade de liderança e condições de, nesse momento difícil, unir todos em prol do benefício comum.

          Os pacotes de maldade estão sendo preparados contra os trabalhadores, ou seja, aquela parcela silenciosa que, até, aqui, vem carregando a minoria gananciosa nas costas. Não sei qual é a lógica desses doutores em querer tirar mais de quem já ganha menos, e vem, ao longo dos anos, contribuindo ao limite e sendo sugado gulosamente por esses vampiros burocráticos.

           Enquanto isso, na solidão do Planalto Central, o mandatário de plantão irradia sua desinteligência para os quatro cantos do país, e, indo contra todas as evidências científicas mundiais, pessimamente assessorado por três tristemente famosos familiares, assevera que ninguém precisa ficar com medo da “gripezinha”.

          A cara de pau é tamanha que o dito cujo se considera imune ao contágio, apesar de não ter divulgado o resultado do exame que fez. Trata-se de um caso raro de fé inabalável, daquelas que remove montanhas, ou, como se apresenta mais coerente, apenas um megalômano induzindo cidadãos desavisados a erro.

          Dezenas de abnegados lutam diuturnamente, em hospitais e postos de saúde, colocando em risco a própria vida, para, em condições técnicas e materiais nem sempre as melhores, amenizarem o sofrimento dos contaminados. E são obrigados a ouvir tamanho disparate? Imagino que, em alguns, possa até dar vontade de largar tudo e ir para casa também.

          Seria cômico, se não fosse trágico.

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