domingo, 29 de junho de 2025

Lembranças

 

Em A Tribuna de 28/06/25 a escritora, pesquisadora e professora titular de Literatura do IFES, Andréia Delmaschio, na coluna “Tribuna Livre”, publicou um artigo intitulado “Por que ler Renato Pacheco?”, que foi magistrado, professor, historiador, sociólogo e escritor dos mais importantes dessas terras capixabas, de quem tenho a honra de ser filho.

 

A articulista pergunta, e ela mesma responde: “Porque grande parte dessa produção (se referindo aos poemas, romances, textos sobre cultura popular, estudos da área do Direito, História e Sociologia escritos por ele) segue atualíssima, o que indica, por um lado, o alcance da visão do autor, por outro, pouca transformação na sociedade de que se trata. Ler Renato Pacheco é conhecer melhor o lugar onde ele viveu e onde vivemos”.

 

Esse, a meu ver, é um ponto importante para entendermos melhor a sociedade que temos hoje. Sabemos que somos resultados de uma longa caminhada iniciada por nossos antepassados. Mas esse mundo digital, com seus inúmeros influenciadores deletérios e mensagens instantâneas, que se perdem de um dia para o outro, não deixa muito espaço para esse tipo de aprendizado e conhecimento. A própria professora Andréia indaga, no início de seu texto, quantos que estudam na Escola Estadual Renato Pacheco, em Vitória, sabem quem foi o homenageado.

 

Enfim, muitas são as pessoas, homens e mulheres que contribuíram em favor do crescimento intelectual e espiritual dos seus irmãos de jornada terrena, que estão esquecidas, com trabalhos empoeirados escondidos em alguma prateleira, ou até mesmo digitalizados, mas inacessíveis e pouco conhecidos. Alguém disse que o brasileiro tem memória curta, mas eu acho mesmo é que quase todos os nossos dirigentes municipais, estaduais e federais é que, desde o descobrimento, não estão nem aí para a hora do Brasil, conforme se dizia antigamente, preferindo cultivar outros valores e princípios.

 

Haja vista a quantidade de telas disponíveis hoje em dia, mas quem, entre os mais jovens, ainda tem interesse em ler um bom livro ou estudar mais profundamente algum tema. É a época das futilidades e da cultura rasa. Ainda bem que existem alguns abnegados, a exemplo da professora Andréia Delmaschio, para que nem tudo fique perdido nos escaninhos de uma história mal contada.

domingo, 25 de maio de 2025

Hábitos

 

Lao-Tze, também conhecido por Lao-Tzu, autor do livro Tao Te Ching, chinês fundador do taoísmo filosófico, teria dito: “Toma consciência dos teus pensamentos, pois resultam em palavras. Toma consciência das tuas palavras, pois resultam em ações. Toma consciência das tuas ações, pois resultam em hábitos. Toma consciência dos teus hábitos, pois resultam em caráter. Toma consciência do teu caráter, pois resultará no teu destino”.

 

Bom, me lembrei dessa frase, na parte relativa às ações/hábitos, quando fiz recentemente minha visita de rotina anual ao cardiologista. O médico já é conhecido da família, pois cuidou da minha mãe, da minha sogra, cuida de mim, da minha mulher e dos irmãos dela e alguns amigos. Ele é do tipo sincerão, ao ponto de, enquanto fazia uma requisição de exames de sangue, dizer que não ia pedir avaliação do meu nível de testosterona porque eu não faço nenhum tipo de atividade física. Pode isso, Arnaldo?

 

Mas aí não resisti quando o doutor me mandou emagrecer (não sei quantos quilos peso, porque quando a balança chega em 80 eu pulo fora) e praticar exercícios. Retruquei: “O senhor já me disse isso no ano passado. Não tem nada de novo para falar? Toda a vez é a mesma conversa?” Porém, piadas à parte o assunto é sério. Sem dúvida que rotinas mais saudáveis são indicadas para todas as idades, em especial aos idosos, pois todo mundo sabe que vai morrer, mas ninguém tem pressa.

 

Quando minha mãe fez 90 anos, e me disse que eu estava gordo, prometi que no centenário dela estaria com barriga tanquinho. Ela faleceu perto dos 97, e acho que estou desobrigado da promessa, mas, com certeza, uns quilinhos a menos e uns músculos a mais não farão mal nenhum, ao contrário, serão bem benéficos. Assim, já acertei com minha consorte e a caçulinha de 38 anos de idade, que também tem um ligeiro sobrepeso, que vamos agir para modificar hábitos alimentares e voltar à academia.

 

Decisão essa tomada hoje à mesa do almoço, enquanto degustávamos um delicioso frango assado (aqueles da televisão de cachorro), acompanhado de sorvete de chocolate na sobremesa e uns dois ou três copos (pequenos, diga-se de passagem) de Coca-Cola, que é para digerir toda a gordura ingerida. Estamos, porém, nos preparando psicologicamente para de 1º de junho em diante criar vergonha na cara.

 

O cardiologista que me aguarde. No ano que vem ele vai ter uma surpresa. Quem viver, verá. E Deus permita que eu também viva até lá e muito mais além. 


Amém!

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Conclave

 

Não, não estou falando do filme de mesmo nome que vem fazendo sucesso num desses canais de streaming. Me refiro à reunião dos cardeais católicos realizada no Vaticano que aconteceu nos últimos dois dias para a escolha do sucessor do argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, recentemente falecido.

 

A famosa frase latina habemus papam foi pronunciada nessa tarde (08/05/25), no horário de Brasília, pelo protodiácono Ângelo Mamberti, para aplausos de uma multidão que lotava a Praça de São Pedro. Após três votações inconclusas, a fumaça branca subiu pela chaminé da Capela Sistina: o líder de 1,4 bilhão de católicos (estimativa) tinha sido escolhido.

 

Desta feita, o agraciado com pelo menos 89 votos dos 133 eleitores foi o cardeal norte-americano, naturalizado peruano, Robert Francis Prevost, que escolheu o nome de Leão XIV. Anteriormente, ocupava, na Cúria Romana, os cargos de prefeito do Dicastério para os Bispos (órgão responsável pela nomeação de bispos) e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina. Em seu primeiro pronunciamento, pediu paz no mundo.

 

Por ordem superior (minha mãe) frequentava missa na minha infância e início da adolescência. Fui batizado e até crismado, mas atualmente (e já se vão 40 anos) sigo outra denominação religiosa, de caráter espírita, cristã e reencarnacionista. Mas nada tenho contra o Catolicismo ou qualquer outra religião. Entendo que todas cumprem o importante papel de manter um ligação da humanidade com Deus ou Alá ou Adonai (Jeová), e até mesmo Buda ou no hinduísmo com suas inúmeras divindades. Para mim, todos formam um único e mesmo Criador.

 

Sabemos que ainda não somos perfeitos. Falhas existem em todos, e como seres humanos estamos passíveis de erros. O Catolicismo (e as demais religiões também) enfrentou muitos problemas com denúncias de abusos sexuais, desvio de recursos e homossexualidade. Uma das regras que vejo como das mais difíceis é a do celibato clerical – a sexualidade, a meu ver, é uma condição inerente tanto ao homem quanto à mulher. No popular: difícil de segurar.

 

Entretanto, todas, entre lideranças e praticantes, acredito, têm pessoas de bem, que verdadeiramente buscam servir ao próximo, considerando a prática da caridade uma verdadeira demonstração do amor de Jesus Cristo. Trabalhos sociais relevantes acontecem no mundo todo, e a prática da fé tem sido um bálsamo para muitos que sofrem ou sofreram com as agruras da vida terrena. Além disso, valores éticos e de respeito importantes (a família, por exemplo) estão presentes, orientando a conduta de uma sociedade.

 

É claro que numa estrutura enorme igual a da Igreja Católica Apostólica Romana muitos são os interesse escondidos, e a estrutura de poder se movimenta, quase sempre, para manter o status quo. Porém, toda renovação, a princípio, é válida.

Que o novo pontífice efetivamente contribua, conforme manifestou no seu primeiro pronunciamento, para a paz mundial, mas lembrando que ela começa primeiro dentro de cada um de nós.

 

Assim seja!

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Maio

 

 

“Azul do céu brilhou/ E o mês de maio enfim chegou/ Olhos vão se abrir para tanta cor/ É mês de maio, a vida tem seu esplendor”.

 

E assim canta Almir Sater nessa linda composição intitulada exatamente Mês de maio, coautoria com Paulo Simões.

 

Maio é o mês que tem duas regências – Touro e Gêmeos. Além disso, é o quinto mês do calendário gregoriano e o terceiro dos sete que têm 31 dias. Em latim escreve-se Maius, em homenagem à deusa grega da fertilidade Maya.

 

Para o catolicismo, é totalmente dedicado à Virgem Maria, por conta da primeira aparição de Nossa Senhora, em 13 de maio de 1917, às três crianças pastores em Fátima, Portugal. Anos antes, mas no mesmo dia, aqui no Brasil, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que aboliu a inominável escravidão em solo pátrio. E mais anteriormente ainda, em 20 de maio de 1498, o navegador português Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia.

 

Entre as datas comemorativas destaca-se o Dia do Trabalhador ou Dia do Trabalho, logo no 1º de maio, efeméride com nuances históricas e políticas que remontam à uma greve de operários, em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos. Muita água passou por debaixo da ponte e o que era para ser um momento de luta e reflexões por direitos da classe operária virou um feriado na base de churrasco e cerveja.

 

Enfim, vida que segue, até porque a inexorável marcha do tempo não permite muitas divagações e arrodeios e ilações metafísicas. Já estamos no quinto mês de 2025 e tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes, com as mesmas notícias antigas se repetindo de corrupção, desvios e/ou privilégios de uma forma tão generalizada em todos os poderes da República que ninguém sabe se vivemos uma farsa ou é apenas um pesadelo que vai passar quando acordarmos.

 

Melhor mesmo é cantar: “Oi, meu irmão, fique certo/ Não demora e vai chegar/ Aquele vento mais brando/ E aquele claro luar/ Que por dentro desta noite/ Te ajudarão a voltar/ Monte em seu cavalo baio/ Que o vento já vai soprar/ Vai romper o mês de maio/ Não é hora de parar/ Galopando na firmeza/ Mais depressa vais chegar (Vento de maio, Torquato Neto).

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Casórios

 

 

Aqui e acolá sou convidado para algum casamento. Não é exatamente meu programa favorito. Só fui ao meu porquê não tinha outro jeito (na verdade, eu estava mais ansioso para casar do que a minha consorte). Desta vez, foi o casamento de um afilhado de batismo, já com seus 30 anos bem vividos, que resolveu fazer aqueles votos de “até que a morte os separe”, conforme a citação bíblica (Mateus 19:6): “Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe”.

 

A alegria esperançosa estampada no rosto dos noivos me fez pensar também quando me casei, quase 47 anos atrás, cultivando os mesmos sonhos que o amor é capaz de construir. Praticamente meio século depois (as Bodas de Ouro estão chegando), só tenho que agradecer a Deus pelas três filhas, quatro netos e a mulher fiel, companheira e amorosa que a vida trouxe até mim.

 

Mas voltemos à cerimônia objeto dessas linhas, realizada em um centro espírita reencarnacionista, em que o celebrante, bastante inspirado, mostrou o caminho das pedras para uma convivência a dois de forma harmoniosa e tranquila, sem esconder, porém, que nem tudo são flores. Afinal, surpresas do cotidiano, nem sempre agradáveis, são passíveis de acontecer, e os nubentes precisam estar alerta para não serem pegos desprevenidos.

 

E depois teve aquela recepção em que todos ficaram bem descontraídos, principalmente numa boca livre repleta de guloseimas e os tradicionais doces próprios de eventos dessa natureza. E fotos, muitas fotos, que poucas pessoas vão ver (as fotografias em papel pelo menos tinham aqueles álbuns que a gente olhava de vez em quando).

 

Numa incrível coincidência, o buquê que a noiva lançou aos ares caiu aos pés da jovem irmã do noivo, que, na inocência dos seus 20 anos, pegou as flores meio sem saber o que fazer com elas. Mas a galera não deixou barato, e foi imediatamente cumprimentar o pai da moça, antevendo mais um casamento em breve na mesma família, caso seja verdade a tradição popular de que a solteira que pegá-lo será a próxima noiva.

 

Enfim, alegria de rever os amigos, confraternizar e continuar o projeto divino para a humanidade: crescei-vos e multiplicai-vos. Que as famílias, esse elo tão fundamental na existência do ser humano, se fortaleçam cada vez mais, na constância da força mais poderosa do Universo: o Amor.

 

Felicidades aos noivos e a todos.

terça-feira, 25 de março de 2025

Março

 

Março, o terceiro dos doze meses do nosso calendário gregoriano, e um dos seis com 31 dias, é um marco divisor, uma passagem entre o final do verão e o início do outono no hemisfério sul, com suas temperaturas mais amenas, ao menos em tese. Astrologicamente falando é considerado um período de vibrações positivas relacionadas à prosperidade. É representado pelo planeta Marte.

 

Na minha vida pessoal, março está marcado por dois momentos de dor e saudade e também um momento de grande alegria. A tristeza advém do falecimento do meu pai, Renato José Costa Pacheco, aos 75 anos, no dia 18 de março de 2004, assim como da morte da minha mãe, Clotilde “Tildinha” Bomfim Pacheco, com quase 97 anos de idade, no dia 25, em 2023.

 

Porém, foi também em março, no dia 20, do ano de 1983, que nasceu a minha filha do meio, Taís, atualmente de sobrenome Diniz, casada e com dois filhos – Kiara e Aron.

 

Deus, em sua infinita sabedoria, é quem determina se vai chover ou fazer sol, assim como a data de morrer e a data de nascer. A nós, pobres mortais, só resta buscar conformação, no que for preciso se conformar, e nos alegrarmos, naquilo que for motivo de alegria. E vida que segue.

 

Mais uns dias já estaremos em abril, e 2025 caminha célere para a sua metade. Dizem que o tempo está acelerado, que os anos estão passando mais rápidos. Não sei se é verdade, mas que parece, parece mesmo. Esses dias eu tinha 18 e agora já estou beirando os 68 anos, com as graças divinas. Mas vivendo e achando bom.

 

Conforme diria Tom Jobim, “são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração” (Águas de março).

terça-feira, 4 de março de 2025

Irreparável

 

Caboclo nascido num seringal amazônico, onde viveu, em meio ao florestal, parte da primeira infância, Carmiro Gabriel da Costa era daquelas pessoas que ninguém esquece. Olhar penetrante, cativava a todos com seu jeito simples, amoroso e fiel. Por onde passava, deixava a sua marca. Pensamento ligeiro, era um líder nato, a quem se obedecia tranquilamente, pois sabia alcançar os corações de homens e mulheres com sua palavra amiga e sincera.

 

Atingido por um infarto fulminante, Carmiro, aos 67 anos de idade, deixou o plano terreno na tarde do dia 03 de março de 2025, deitado em sua cama, após o almoço. Estava num sítio de sua propriedade. Seu falecimento somente foi descoberto quando foram chamá-lo ao final do dia. Porto Velho, cidade em que morava, sofre com essa perda, com especialidade a irmandade da União do Vegetal, onde se destacava como uma das lideranças mais importantes.

 

Muito anos-luz à minha frente na vida espiritual, Carmiro sempre me honrou com sua amizade e respeito, e quando o celular tocou nessa madrugada já me levantei sabendo que não era notícia boa. Infelizmente, foi pior ainda do que poderia imaginar. Pai exemplar, formou uma família em base sólida, com sua esposa e os quatros filhos (três homens e uma mulher), além de inúmeros netos.

 

A distância (sem falar no preço escandaloso dos bilhetes aéreos) não me permite estar lá para lhe prestar uma última homenagem, mas elevo meu pensamento a Deus rogando que o acolha em uma de suas moradas, enviando conformação aos familiares, amigos e irmãos de fé, entre os quais me incluo, que continuam pelejando nesse mundo atroz, mas na certeza de que permanecem as muitas e boas lembranças.

 

Saudade é coisa que a gente só sente estando a distância presente, canta o grupo Temucorda na música Peregrino, e o Mestre Carmiro cumpriu sua missão na vida material, nessa encarnação, deixando um nome e uma obra que todos vão se lembrar com amor.

 

Vá em Paz, Velho Amigo!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Século XXI

  

Da China vem a notícia de que uma família foi flagrada dormindo dentro de um carro autônomo que trafegava por uma rodovia. Segundo Gabriel Lima, colaborador do UOL, “uma família na China foi gravada dormindo enquanto seu carro - um Li Auto L9 - trafega por uma rodovia. Todos, inclusive o motorista, não estão acordados. Não se sabe se o vídeo foi apenas combinado, porém o carro estava de fato em uma rodovia” (mais em https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2025/02/17/familia-aparece-dormindo-em-carro-autonomo-trafegando-em-estrada.htm?cmpid=).

 

Conforme diriam os antigos, “esse mundo está mesmo perdido”, mas essa invenção me parece algo bem interessante. Porém, fico pensando como é que os engenheiros especializados no tema conseguiriam colocar um carro autônomo para rodar nas ruas das cidades brasileiras, com tantos motoristas, ciclistas e motoqueiros sem um mínimo de educação de trânsito ou respeito pela sinalização.

 

Aqui em Guarapari, por exemplo, motos na contramão se vê às dezenas, diuturnamente. Será que o DMS – Driver Monitoring Systems instalado nos carros autônomos tem capacidade de memória suficiente para se antecipar a esse tipo de irregularidade ou outros tipos de barbeiragens tradicionais ao sul do Equador? Vão ter que criar uns modelos especiais.

 

Acredito que essa é mais uma novidade que vem se tornar comum nos próximos 20 ou 30 anos, até porque já se fazem testes até com carros voadores. Mas gostei da ideia. Estou numa fase em que dirijo automóvel se não tiver outro jeito, exatamente porque os “donos da rua” me incomodam bastante.

 

Que venham os carros autônomos. Eu quero um!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Devolvida

 

 

Segundo o ChatGPT, “civilização é um termo que se refere ao estágio avançado de desenvolvimento social, cultural e econômico de uma sociedade. Geralmente, envolve a organização de comunidades em cidades, a criação de sistemas de governo, a prática de religiões, o desenvolvimento de uma linguagem escrita e a realização de avanços em áreas como ciência, arte e tecnologia. Civilizações também são caracterizadas por suas interações com outras sociedades, incluindo comércio, guerra e intercâmbio cultural. Em resumo, civilização é um conceito que abrange a complexidade e a riqueza da vida humana em sociedade”.

 

No DeepSeek, para minha surpresa, a definição é idêntica, sem mudar nenhuma virgula (acho que o pessoal de TI deve saber o motivo). Já o Microsoft Copilot explica que “civilização é um conceito amplo que se refere ao desenvolvimento de sociedades humanas complexas. Isso inclui elementos como cultura, tecnologia, economia, religião, governo e educação. Uma civilização é caracterizada pela presença de cidades, organização social avançada, sistemas de escrita, avanços tecnológicos e produção de arte. Em resumo, é o resultado do esforço coletivo de um grupo de pessoas para criar uma sociedade estruturada e funcional”.

 

O Gemini, mais uma dessas novas ferramentas de inteligência artificial, por sua vez, afirma que “civilização é um conceito complexo e multifacetado que pode ser definido de diversas maneiras, dependendo da perspectiva que se adota. No entanto, alguns elementos são comuns à maioria das definições: desenvolvimento social, político, econômico e cultural avançado; urbanização; tecnologia; conhecimento”.

 

Bom, eu, com minha pouca inteligência natural, entendo que civilização deve ser definida, resumidamente, por educação e respeito. Todo esse preâmbulo é para reiterar minha indignação com o comportamento dos turistas que invadiram Guarapari desde o final do ano passado. Os visitantes (não vou falar mineiros para evitar generalizações) espalharam tanto lixo nas ruas e praias que fica difícil imaginar que sejam “pessoas civilizadas”, ou, pelo menos, respeitosas e educadas. Isso sem falar em caixas de som, cachorros e bolas voando de um lado para o outro. E tem também os carros estacionados de qualquer jeito e em qualquer lugar, até mesmo debaixo de uma placa de “proibido”.

 

Não sei como a coisa funciona em outros balneários do Brasil ou do mundo, mas aqui no meu cantinho gostaria que fosse possível um jeito melhor de essa convivência temporária ser menos incômoda e mais prazerosa para todos. A sorte é que nesse 2025 o Carnaval é em março, o ano letivo começou mais cedo e os sujismundos começaram a voltar para suas cidades de origem, onde, imagino, mantenham um comportamento mais “civilizado”.

 

A praia é nossa, novamente.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Leituras 2025

 

Depois de um período nada sabático em que passei mais tempo assistindo televisão, basicamente séries e esportes (o Super Bowl vem aí), do que qualquer outra coisa, resolvi voltar ao bom e velho hábito da leitura, que havia deixado de lado por pura preguiça, desencantado com algumas coisas da vida e do mundo, e comigo mesmo, ainda me acostumando com uma aposentadoria precoce.

 

Meu saudoso pai, Renato Pacheco, não nos deixava faltar nada para ler, nem que fosse uma revistinha do Pato Donald ou do Tio Patinhas, sucesso com a criançada em décadas passadas. Mais à frente, além de romances e biografias, meus preferidos, comprava nas bancas Placar e Veja (lia inclusive os anúncios), até que fiz assinatura de ambas. Por necessidade profissional não deixava escapar nenhum jornal que me caísse nas mãos. 

 

Costumo ler mais de um livro por vez, um pouquinho de cada um, geralmente deitado na cama, depois do almoço e à noite, antes de dormir.

 

Encontrei na minha estante, e estou relendo-o, um clássico dos estudantes de Direito, que é A cidade antiga, de Fustel de Coulanges, na edição de 1998 da Martins Fontes. O autor é um renomado historiador francês, dos anos 1880, que traça, de forma bem detalhada, mas sem erudição exagerada, observando, porém, o rigor científico necessário, dos primórdios das cidades, suas instituições jurídicas, familiares, políticas e religiosas. Recomendo.

 

Junto com o livro 20 anos sem Renato Pacheco, editado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, ganhei também Espírito Santo – histórias, de João Eurípedes Franklin Leal, os números 80 e 81 da revista do IHGES e Breve notas quase-literárias, de Getúlio Marcos Pereira Neves, este uma agradável surpresa, pela leitura fácil e relatos interessantes sobre a cultura e aqueles que a fazem em terras capixabas, sem contar as inúmeras boas referências ao autor de A oferta e o altar.

 

E completando minha atual lista de leituras, para não parecer que estou muito esnobe, tirei a poeira de A porta de bronze e outros contos, de Raymond Chandler (edição da Editora Record de 2009). Seu famoso detetive Philip Marlowe, entre uma bebida e um cigarro, resolve sequestros e assassinatos na Los Angeles da época da Grande Depressão. Ao lado de Dashiell Hammett, Chandler compõe o panteão dos mais afamados escritores do romance policial americano, a dita literatura noir. Muito bom para uma leitura sem compromisso.

 

Aguarda a vez na mesinha de cabeceira a coleção completa de O tempo e o vento, do gaúcho Erico Veríssimo. São sete volumes – O Continente, O Retrato e O Arquipélago – numa caixa editada primorosamente pela Companhia das Letras.

 

Até o Carnaval já tenho com o que me divertir.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Saudades

 

Premido pelas circunstâncias da vida meu neto mais novo, Benício, que no próximo mês de abril comemorará seus primeiros dois anos, está morando aqui em casa, acompanhado pela mãe.

 

Pense num menino opinioso. Se bobear, ele quer mandar em todo mundo. Ao mesmo tempo é muito carinhoso, alegre e com a bateria sempre carregada. Correr atrás dele não é brincadeira, ainda mais nessa minha fase quase septuagenária. E tem a carinha mais sapeca do mundo - não reparem, mas todo avô que se preza é essencialmente um babão.

 

Aproveitando o recesso da creche, minha querida criança foi passar uns dias na casa do pai. E deixou uma imensa saudade. Hoje cedo não ouvi a sua voz poderosa me chamando ao pé da minha cama, conforme faz parte da rotina diária a qual já me acostumei.

 

Mas tudo tem pelo menos dois lados, e a vantagem desse momento é que ao sentir saudade estou me lembrando de alguém a quem amo incondicionalmente. Afinal, a gente só se recorda de coisas boas, viagens agradáveis, amigos queridos. Ninguém gosta de ficar pensando em ocasiões desagradáveis. E estou na expectativa de quando ele voltar, tipo a Raposa e o Pequeno Príncipe, pois fui cativado pela semente do amor.

 

Que chegue logo segunda-feira!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

A pedido (*)

 

Num lugar muito, muito distante, e muito antigo também, cuja localização havia se perdido ao longo dos séculos, cercado por montanhas inacessíveis e banhado por rios de águas cristalinas, com verdes gramados onde o vento soprava mansamente entre árvores de todas as espécies, grande e pequenas, e flores de raras belezas, vivia um pequeno e solitário unicórnio. O nome dele era Único.

 

Único assim se chamava porque ali não havia nenhum outro animal parecido com ele. Unicórnio, todos sabem, tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um chifre em espiral no centro da cabeça e uma pequena barbicha parecida com a de bode. Único, porém, quando jovem, era prateado, e sua pele brilhava quando tocada pela luz do Sol. Ele corria livre por aqueles campos, em convivência pacífica com demais seres que ali habitavam.

 

À medida que foi crescendo, e ficando com o pelo de uma alvura inigualável, Único começou a perceber que todos os outros bichinhos da floresta viviam em pares: os passarinhos, os pequenos esquilos, os grandes ursos e até mesmo os peixes tinham outros iguais, formando casais e se reproduzindo quando a natureza assim determinava. Mas ele estava só, e não entendia o motivo.

 

Único gostava todos os dias de subir uma pequena colina para contemplar o nascente, pois a energia solar era muito importante para ele, lhe dava força e resistência. Numa manhã de esplêndida beleza, enquanto se nutria daquela luminosidade divina, notou que os raios do Sol formavam um tipo de trilha e daquele caminho etéreo vinha descendo um ser igual a ele, mas menor um pouco e com feições mais suave, como se fosse, e era, uma unicórnio.

 

Extasiado diante do que estava acontecendo, Único sentiu uma alegria incomparável e recebeu com muitas demonstrações de carinho a sua parceira, que se chamava Aurora, passando a conviver com ela para todo o sempre naquele mundo mitológico. Desde então, mudou seu nome para Amor. E foram felizes no infinito e além.

 

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(*) Minha neta Kiara Mariah, que está começando a dar os primeiros passos no mundo da leitura, viu a pequena brochura intitulada Uma aventura (quase) galáctica que escrevi para Alice, a Primeira, minha neta mais velha, e me pediu um texto sobre o bichinho preferido dela, que é o unicórnio. Daí esse pequeno exercício literário fantasioso.

 

 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2025


Num dia típico de verão – mormaço, um pouco de chuva, um pouco de sol – 2025 deu as caras. Ainda não disse a que veio, e nem sei se prometeu alguma novidade, além do Carnaval no início de março, sem ser, como era de costume, no mês de fevereiro.

Sai ano, entra ano e novas ou velhas promessas são feitas, e muitas descumpridas, mais uma vez. Nesse calendário gregoriano do mundo ocidental – na contagem do tempo do povo judaico, estamos no ano 5785; na islâmica, 1446 – os dias, semanas e meses vão se acumulando sem muitas diferenças perceptíveis, às vezes tão somente no mudar das estações.

O ano somente será novo se a transformação acontecer dentro de cada um de nós, naquilo que precisamos melhorar no nosso jeito de ser, agir e falar. Nada mais antigo do que a insistência em velhos hábitos prejudiciais à saúde e ao convívio social, picuinhas e mágoas que remontam a décadas passadas, como se o tempo tivesse parado numa determinada situação e nada mais houvesse acontecido desde então.

Façamos o diferente para que diuturnamente tenhamos a capacidade de ficar um pouquinho melhor do que já somos, em nosso próprio benefício e daqueles que convivem conosco, sempre nos adaptando às circunstâncias inesperadas da vida, conforme me disse um amigo meu, após saber do resultado da Mega da Virada, que mudou seus projetos para 2025 da seguinte maneira: em vez da Disney, Parque Moscoso; Sea World – Projeto Tamar; saem Alpes Suíços, entra escalada do Mestre Álvaro; Shopping Vitória no lugar de Miami; Ilha das Caieras em vez das ilhas gregas; Caribe – Manguinhos e, finalmente, no lugar do Vaticano, entra o Convento da Penha.

Isso é que é conformação.

Desejo força e resistência para continuarmos enfrentando o que vier, de maneira que cheguemos em 2026 com a fé e a coragem sempre crescentes, pois a estrada da nossa existência é comprida, e só termina quando é cumprida.

Felicidades para todos!