Sob
o sol escaldante de um tórrido e inusitado mês de novembro, o trabalhador
cumpria diligentemente a sua tarefa: refazer a pintura das vagas de
estacionamento em frente a uma loja de tintas.
O
trabalho não era dos mais difíceis, considerando a sua experiência de longos
anos naquela atividade profissional, mas o calor desproporcional causava um
desgaste inesperado. Mesmo assim, suando em bicas, persistia, pois contava com
aquela parca remuneração para levar o sustento para casa, onde lhe esperavam a
mulher e três barrigudinhos.
Nas
proximidades do meio-dia estava quase tudo pronto. Para garantir a incolumidade
do local enquanto os corantes aplicados secavam, colocou em frente às vagas
(eram quatro) uma lata de tinta cheia, amarrando nelas uma vassoura, à guisa de
espantalho improvisado. Acreditando que a segurança estava garantida, buscou
uma sombra para beber um pouco de água e aguardar o dono do serviço, já sentindo
o dinheiro dentro de seu bolso.
Enquanto
isso, ao volante de seu carro, como fazia regularmente de segunda a sexta-feira,
aquela dona de casa cumpria sua rotina familiar: buscar as crianças na escola
e, em seguida, apanhar o maridão no trabalho para o almoço de todos no lar doce
lar. Atendida a primeira parte, dirigiu-se rapidamente ao segundo endereço,
preocupada em não se atrasar.
Sem
medo de ser feliz, fez a curva e entrou na rua, embicando o automóvel para
parar justamente em frente à loja de tintas, localizada ao lado do prédio onde fica
a empresa que garante ao esposo seu ganha-pão. Percebeu que a vaga estava
desocupada e entrou com tudo. Numa fração de segundos, ouviu um estrondo,
percebeu algo colorido no ar e, em seguida, um homem aos gritos batendo no
vidro do veículo.
Assustada,
ligou para o celular do marido pedindo socorro, ainda sem entender o motivo de
aquele cidadão dizer que havia estragado o seu dia de trabalho e quem iria
pagar o serviço dele agora. Abriu a porta e saiu, caindo, então, em si. Tinha
acertado uma das latas colocadas em frente às vagas e espalhado uma bonita
tinta de cor vermelha brilhante sobre todo o piso recentemente pintado de
cinza, preto e amarelo.
Para
acalmar os ânimos, o jeito foi desembolsar 100 reais para o pintor
transtornado, a título de diária, se explicar com o proprietário da loja, que
graciosamente não fez questão de receber pela lata de tinta estourada, e voltar
para casa só pensando em se deitar e esquecer do mundo.
O para-choque do carro, ainda bem, não amassou, mas o pneu dianteiro do lado direito
roda agora coberto por um tom de vermelho vivo inédito para esse tipo de
acessório. Já teve até quem perguntasse onde comprar um igual.
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