Já
tinha desistido de assistir noticiários tantas as mazelas retratadas nos
telejornais. Acompanhei, recentemente, algumas edições locais. Sei que não
adianta tapar o Sol com a peneira, mas insistir diariamente em destacar por
longos minutos as desgraças alheias me parece um quadro crônico de
sadomasoquismo – tanto de quem produz as matérias quanto de quem acompanha. Mas,
talvez, seja apenas o retrato do ponto a que chegamos.
Entre circo e pão, por milhares de anos
a humanidade caminha, geração por geração, em busca de heróis, daqueles que,
tal qual num conto de fadas ou num filme de final feliz, sem preocupação com a
própria vida, se sacrificam em nome do bem comum. Só que não. Infelizmente, o
estágio evolutivo atual dos povos mostra tão somente uma coisa: farinha pouca,
meu pirão primeiro.
Atribui-se a um dos maiores teólogos e
filósofos nos primeiros séculos do Cristianismo, Agostinho de Hipona, mais
conhecido por Santo Agostinho, a seguinte frase: “Nas coisas essenciais,
unidade; nas duvidosas, liberdade; mas em tudo caridade”. Há quem diga, porém,
que este pensamento é de autoria de um pastor luterano do século XVII de nome
Rupertus Meldenius.
Enfim, tanto faz. O importante, na minha
modesta opinião, é o sentido literal. O que é, por exemplo, trazendo o aspecto
religioso para o nosso dia a dia, mais essencial para uma nação? A meu ver, união
em torno de objetivos comuns, com ações, programas e benefícios que redundem em
prol do povo. Nomear determinado sistema de direita ou esquerda é mera
convenção.
Se, efetivamente, a população for a real
beneficiária do Governo, se os mandatários almejarem alcançar cargos públicos
como quem busca um sacerdócio, coloque-se o nome que quiserem. Estou com 65
anos, ou seja, tem 47 anos que cumpro meu dever cívico de comparecer, periodicamente,
à Seção Eleitoral para depositar meu voto (nos tempos das urnas de lona) ou
digitá-lo eletronicamente.
E o que vejo? Apenas grupos, grupelhos e
grupinhos se digladiando por vantagens pessoais. Cadê aquele que abre mão de um
projeto próprio para aceitar um acordo em benefício da coletividade? O amor
(caridade) passa longe da maioria dos gabinetes refrigerados de Norte a Sul
daqueles que comandam, a não ser quando é do interesse oculto de manipulação,
pois ninguém quer largar o osso.
A realidade não deixa muito esperança por
dias melhores. Dezenas de anos atrás, o cantor Zé Ramalho, numa composição lançada
em 1979 (Admirável gado novo), já profetizava: “Vocês que fazem parte
dessa massa/Que passa dos projetos do futuro/É duro tanto ter que caminha/E dar
muito mais do que receber/E ter que demonstrar sua coragem/À margem do que
possa parecer/E ver que toda essa engrenagem/Já sente a ferrugem lhe comer”.
Meu Deus, quando deixaremos de ser tangidos
tal qual um rebanho levado para o curral? Haja resiliência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário