quinta-feira, 14 de julho de 2022

Vai passar

 

 


            Já tinha desistido de assistir noticiários tantas as mazelas retratadas nos telejornais. Acompanhei, recentemente, algumas edições locais. Sei que não adianta tapar o Sol com a peneira, mas insistir diariamente em destacar por longos minutos as desgraças alheias me parece um quadro crônico de sadomasoquismo – tanto de quem produz as matérias quanto de quem acompanha. Mas, talvez, seja apenas o retrato do ponto a que chegamos.

 

        Entre circo e pão, por milhares de anos a humanidade caminha, geração por geração, em busca de heróis, daqueles que, tal qual num conto de fadas ou num filme de final feliz, sem preocupação com a própria vida, se sacrificam em nome do bem comum. Só que não. Infelizmente, o estágio evolutivo atual dos povos mostra tão somente uma coisa: farinha pouca, meu pirão primeiro.

 

Atribui-se a um dos maiores teólogos e filósofos nos primeiros séculos do Cristianismo, Agostinho de Hipona, mais conhecido por Santo Agostinho, a seguinte frase: “Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; mas em tudo caridade”. Há quem diga, porém, que este pensamento é de autoria de um pastor luterano do século XVII de nome Rupertus Meldenius.

 

Enfim, tanto faz. O importante, na minha modesta opinião, é o sentido literal. O que é, por exemplo, trazendo o aspecto religioso para o nosso dia a dia, mais essencial para uma nação? A meu ver, união em torno de objetivos comuns, com ações, programas e benefícios que redundem em prol do povo. Nomear determinado sistema de direita ou esquerda é mera convenção.

 

Se, efetivamente, a população for a real beneficiária do Governo, se os mandatários almejarem alcançar cargos públicos como quem busca um sacerdócio, coloque-se o nome que quiserem. Estou com 65 anos, ou seja, tem 47 anos que cumpro meu dever cívico de comparecer, periodicamente, à Seção Eleitoral para depositar meu voto (nos tempos das urnas de lona) ou digitá-lo eletronicamente.

 

E o que vejo? Apenas grupos, grupelhos e grupinhos se digladiando por vantagens pessoais. Cadê aquele que abre mão de um projeto próprio para aceitar um acordo em benefício da coletividade? O amor (caridade) passa longe da maioria dos gabinetes refrigerados de Norte a Sul daqueles que comandam, a não ser quando é do interesse oculto de manipulação, pois ninguém quer largar o osso.

 

A realidade não deixa muito esperança por dias melhores. Dezenas de anos atrás, o cantor Zé Ramalho, numa composição lançada em 1979 (Admirável gado novo), já profetizava: “Vocês que fazem parte dessa massa/Que passa dos projetos do futuro/É duro tanto ter que caminha/E dar muito mais do que receber/E ter que demonstrar sua coragem/À margem do que possa parecer/E ver que toda essa engrenagem/Já sente a ferrugem lhe comer”.

 

Meu Deus, quando deixaremos de ser tangidos tal qual um rebanho levado para o curral? Haja resiliência.

 


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