terça-feira, 19 de julho de 2022

Madrastas

 


        Ensinam os dicionários que madrasta significa “mulher em relação aos filhos anteriores da pessoa com quem passa a constituir sociedade conjugal”. É a nova esposa do pai. Muitos a usam de forma depreciativa, como se significasse, em todos os casos, uma pessoa má, pouco carinhosa, insensível e até mesmo malvada (https://duvidas.dicio.com.br).

 

        Para aquele jovem no auge dos seus 18 anos de idade e de cima de 1,85m de altura tratava-se do único problema da sua vida: a madrasta. Se não fosse ela, tudo seria perfeito. Morava numa cidade litorânea de belas praias. Estava no auge de sua força física (na academia, entre outros prodígios, levantava 120 quilos de pesos – 60 de cada lado -, mais 20 quilos da barra).

 

        Não passava necessidade nenhuma, e para as meninas da cidade era o rapaz com quem todas sonhavam, o genro que mamãe tinha pedido a Deus. Mas aquela madrasta.....

 

        A gota d’água foram os gritos e maledicências que a cruel balzaquiana lançou contra a sua irmã caçula. Era preciso tomar uma providência. Um dia em que a madrasta estava sozinha no sítio da família, pegou sua bicicleta e foi resolver aquela parada de uma vez por todas.

 

        No local, encontrou-a refastelada numa cadeira na varanda e sem nem ao menos dizer “bom dia” verbalizou toda a mágoa e insatisfação acumulada desde que seu pai tinha resolvido deixar a mãe por outra. Mas a substituta era atrevida, e começou a esbravejar também.

 

        Muitos gritos depois de ambas as partes, a discussão já estava no meio do terreiro, onde havia um latão que servia para colocar o lixo, que estava com ¼ de sua capacidade em uso. Somente produtos orgânicos, registre-se.

 

Sem encontrar um jeito de resolver a situação e já exasperado (queria apenas um pedido de desculpas), o moço, num repente que ele atribuiu, posteriormente, ao contar o acontecido à genitora (que, diga-se de passagem, riu de ficar com dor na barriga), a uma inspiração divina, pegou a indigesta mulher e jogou-a de cabeça para baixo dentro do recipiente metálico.

 

        Percebeu que o latão estava próximo à subida, após a porteira, que dava acesso à casa. Sem titubear, derrubou-o no chão e com um forte empurrão de seu pé numeração 43 fê-lo girar ladeira abaixo. Imediatamente, sentiu que uma paz profunda invadia seu ser. Montou em sua bike e pedalou tranquilamente de volta como se estivesse flutuando no ar, de tão leve que se sentia. Pensava com seus botões: “Resolvi bem a situação”.

 

        Notou, com os cantos do olhos, que o latão tinha parado numa saliência do terreno, chegando tão somente à metade da ladeira. “Nada é perfeito”, imaginou, mas aceitou, resignadamente, os desígnios de Deus. Dali em diante, a madrasta ficou uma seda e nunca mais alterou a voz com ele ou com a irmã. Não sabe nem se o pai ficou sabendo, porque não ouviu uma palavra dele sobre o assunto.

 

        Mais à frente, o genitor largou a madrasta, ficou uns tempos sozinho e voltou para a primeira esposa. Um dia, já homem formado e casado, quase 20 anos depois do acontecido, viu a mulher objeto da sua raiva juvenil num ponto de ônibus. Educadamente, parou o carro e ofereceu carona, que foi prontamente recusada.

 

Comentou, depois, que a sofrida senhora rejeitou o auxílio com um semblante entremeado de medo e preocupação. Não ficou com sequelas físicas, mas, conforme diz o ditado, quem bate esquece, quem apanha, jamais.

 

  

 

       

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário