Campanha política é um negócio (e bota
negócio nisso) complicado.
Reputações são destruídas, acusações feitas
sem um mínimo razoável de comprovação e todos os lados envolvidos se consideram
certos e qualquer um que pense diferente é o inimigo que precisa ser destruído,
pisoteado e enlameado.
Faz tempo que busco para minha vida um
equilíbrio que se aproxime o máximo possível do caminho budista do meio, ou
seja, como se diz popularmente, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Não é
muito fácil.
Já tem alguns anos que na eleição
presidencial eu voto no “seu nulo”, pois não vejo em nenhum dos candidatos
anteriores e atuais condições de se arvorarem salvadores da Pátria, este ente
tão utilizado nos discursos e propagandas, mas que continua sendo vilipendiado,
sem que os maiores interessados, nós, o povão, tenhamos qualquer voz ativa na
condução do seu destino, pois a nossa democracia ainda me parece próxima de um
simulacro, tantos são os balcões disponíveis para negociatas.
Talvez, por isso, Sir Winston Churchill
tenha dito que “ninguém pretende que a democracia
seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de
governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em
tempos”. Dessa maneira, qualquer ameaça à democracia, por mais defeituosa
que esteja, precisa ser repelida com veemência.
Queria passar ao largo desse assunto,
mas me senti, porém, com a obrigação de escrever alguma coisa em relação ao
insano, inconsequente e totalmente desprovido de qualquer sentido lógico comentário
deletério que determinado parlamentar federal, cujo nome nem merece ser
nominado, fez recentemente em relação à jornalista Miriam Leitão, que conheci em
Vitória nos momentos de minha militância sindicalista juvenil, sem,
naturalmente, a intensidade e denodo dela.
Não posso dizer que tenhamos sido muito próximos,
mas acredito que possamos, em algum momento, termos comungado dos mesmos ideais
de fraternidade, liberdade e de um país socialmente mais justo, mesmo que os meios
para se alcançar tão nobres objetivos possam ter sido vistos, naquela época, de
formas diferentes por mim e por ela. Estou só conjecturando, pois tem muitos
anos que não a vejo.
Entretanto, o cerne da questão, a meu
ver, é que nenhum ser humano, seja lá o que possa ter feito (até porque são
muitos os pontos de vista sobre um mesmo tema), merece ser torturado, e não se
pode dar o direito a outrem de supliciar seu semelhante. Respondem por este
crime quem fez e quem ordenou. Inconcebível que uma pessoa, homem ou mulher, já
presa (inclusive, de forma ilegal) e sem possibilidade de defesa sofra
humilhações degradantes e, mais absurdo ainda, estando grávida. O que passa
pela cabeça de tamanho monstrinho vestido de gente? Não consigo imaginar. E se
os adversários da ditadura militar fizeram coisas do mesmo naipe, também merecem
ser repudiados, pois, na forma que entendo atualmente, os fins não justificam os meios.
Eu participei pouco de toda aquela luta,
mais na fase final, das campanhas “Diretas Já”, “Anistia ampla, geral e
irrestrita” e o fim da censura à imprensa, pois já militava nas redações. Tinha
menos ou pouco mais de 20 anos, e sabia um mínimo de coisas do mundo e suas vicissitudes,
como ainda não sei quase nada. Mas tem algo que sempre me indignou, talvez tanto
quanto a violência como meio oficial de coação estatal: o deboche.
O que aquele cidadão fez mancha
sobremaneira o Parlamento, cuja reputação já não está essas coisas todas. Fosse
esse um país sério, onde o debate ideológico observasse a dialética platônica,
o mandato dele estaria cassado sem maiores delongas. É claro que isso é apenas
um sonho de uma noite de outono. Mas dia virá em que a verdade será uma só, não
por imposição, mas por uma consciência clara do que é efetivamente uma vida em
comum numa sociedade onde todos têm tudo e a ninguém falta nada.
Minha modesta solidariedade, Miriam
Leitão.
Perfeito
ResponderExcluirGrato
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