Qualquer um com mais de sete anos de
idade já sabe, ou pelo menos tem noção, que a convivência entre seres humanos
não é uma coisa muito fácil. Outras espécies vivas têm mais facilidade. Um exemplo
disso: milhares de formigas subindo umas nas outras num formigueiro, e até
mesmo uma casa de abelhas lotadas de pequenas operárias e devotados zangões
cuidando da rainha. Não se tem notícia de que esses insetos, até onde este
modesto e leigo escriba sabe, tenham problemas de relacionamentos.
Com homens e mulheres há uma grande diferença.
Mas o que me parece deveras interessante é observar como o poder modifica
aquele que o detém. O sempre venerado presidente dos Estados Unidos Abraham
Lincoln disse, certa vez: “Se quiser por à prova o caráter de um homem,
dê-lhe poder”. Um saudoso amigo que já mudou do plano terrestre para o celestial
acrescentava: “E quer conhecer melhor ainda: tire-lhe o poder”.
Ao
longo de mais de 45 anos de atividades profissionais, tanto no setor privado
quanto no serviço público, vivenciei um tanto disso. Gente que chega num posto
de comando e muda da noite para o dia, da água para o vinho. São aqueles que
chamam os colegas de “amigos”, mas, na realidade, querem ferrar todo mundo. Na
frente, um discurso do tipo “sou aberto às novas ideias”; por trás, impõem a própria
vontade a ferro e fogo, sem dó e nem piedade.
Contudo, não podemos desconsiderar o valor
que esses minúsculos déspotas possuem na nossa vida. Num capítulo do livro O
fogo interior, Carlos Castaneda, antropólogo da Universidade da Califórnia,
trata do caminho do guerreiro, percurso para quem deseja alcançar a sabedoria,
através de quatros atributos: controle, disciplina, paciência e sentido de
oportunidade.
Neste trajeto, é necessário encontrar com alguns tiranos e tiranetes, para “treinar
a não reagir com raiva, manter seu controle, ter disciplina e paciência”. Para
Castaneda, “quando um guerreiro
perde a cabeça por causa de um pequeno tirano, ele é derrotado. Então, deve se
preparar mais para enfrentá-lo novamente, ou aceitar ficar ao lado dos
pequeninos tiranitos”. Tudo isso
para dizer que “quando se encontra um Minúsculo Pequeno Tiraninho pelo caminho,
é sinal de que se está sendo chamado para desenvolver o potencial de guerreiro
e sabe-se da sua força pelo tamanho do seu tirano”.
Dessa maneira, amigos e amigas, não nos preocupemos com quem queira atazanar
nossa caminhada. Eles são necessários. E o porte do tirano é a medida da nossa
capacidade de enfrentá-lo, ou seja, “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Isso
sem esquecer que talvez estejamos sendo também para outrem um ditadorzinho bem
reles.
Portanto, para “quando debruçar sobre a velhice, o remorso não ferir seu
coração” (Bendito Seja, Alba, em gravação de Marinês), façamos igual a Paulo
de Tarso, um dos mais influentes teólogos cristãos, que, perto de morrer,
afirmou: “Combati
o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a
coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente
a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.7-8).
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