quarta-feira, 13 de abril de 2022

Tiranos e tiranetes

 


        Qualquer um com mais de sete anos de idade já sabe, ou pelo menos tem noção, que a convivência entre seres humanos não é uma coisa muito fácil. Outras espécies vivas têm mais facilidade. Um exemplo disso: milhares de formigas subindo umas nas outras num formigueiro, e até mesmo uma casa de abelhas lotadas de pequenas operárias e devotados zangões cuidando da rainha. Não se tem notícia de que esses insetos, até onde este modesto e leigo escriba sabe, tenham problemas de relacionamentos.

       

Com homens e mulheres há uma grande diferença. Mas o que me parece deveras interessante é observar como o poder modifica aquele que o detém. O sempre venerado presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln disse, certa vez: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. Um saudoso amigo que já mudou do plano terrestre para o celestial acrescentava: “E quer conhecer melhor ainda: tire-lhe o poder”.

       

         Ao longo de mais de 45 anos de atividades profissionais, tanto no setor privado quanto no serviço público, vivenciei um tanto disso. Gente que chega num posto de comando e muda da noite para o dia, da água para o vinho. São aqueles que chamam os colegas de “amigos”, mas, na realidade, querem ferrar todo mundo. Na frente, um discurso do tipo “sou aberto às novas ideias”; por trás, impõem a própria vontade a ferro e fogo, sem dó e nem piedade.

 

Contudo, não podemos desconsiderar o valor que esses minúsculos déspotas possuem na nossa vida. Num capítulo do livro O fogo interior, Carlos Castaneda, antropólogo da Universidade da Califórnia, trata do caminho do guerreiro, percurso para quem deseja alcançar a sabedoria, através de quatros atributos: controle, disciplina, paciência e sentido de oportunidade.

 

Neste trajeto, é necessário encontrar  com alguns tiranos e tiranetes, para “treinar a não reagir com raiva, manter seu controle, ter disciplina e paciência”. Para Castaneda, “quando um guerreiro perde a cabeça por causa de um pequeno tirano, ele é derrotado. Então, deve se preparar mais para enfrentá-lo novamente, ou aceitar ficar ao lado dos pequeninos tiranitos”. Tudo isso para dizer que “quando se encontra um Minúsculo Pequeno Tiraninho pelo caminho, é sinal de que se está sendo chamado para desenvolver o potencial de guerreiro e sabe-se da sua força  pelo tamanho do seu tirano”.

 

Dessa maneira, amigos e amigas, não nos preocupemos com quem queira atazanar nossa caminhada. Eles são necessários. E o porte do tirano é a medida da nossa capacidade de enfrentá-lo, ou seja, “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Isso sem esquecer que talvez estejamos sendo também para outrem um ditadorzinho bem reles.

 

Portanto, para “quando debruçar sobre a velhice, o remorso não ferir seu coração” (Bendito Seja, Alba, em gravação de Marinês), façamos igual a Paulo de Tarso, um dos mais influentes teólogos cristãos, que, perto de morrer, afirmou: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.7-8).

 


 

 

 

         

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