segunda-feira, 25 de abril de 2022

Friozinho

 


        Lá em Rondônia apesar de oficialmente existirem as quatro estações do ano, somente duas são levadas em consideração, mesmo assim de forma bem particularizada: inverno (período de chuvas) e verão (época da seca), com duração aproximada de seis meses cada.

 

        Entre uma e outra acontece o fenômeno da “friagem”, quando, geralmente em julho/agosto, sopra um vento frio, que ora desce dos Andes e de outras vezes sobe do sul. Não dura mais do que três dias, mas serve para todo mundo tirar os casacos mofados dos armários. Coisa de uns 15 graus de temperatura.

 

        Me lembrei disso por conta dessa segunda-feira enevoada que o calendário religioso católico dedica à comemoração de Nossa Senhora da Penha. As elevações costeiras quedaram cobertas por nuvens cinzentas, enquanto uma brisa fresca soprava por entre as castanheiras que ornamentam o calçadão à beira-mar.

 

        Previsão de chuvas esparsas ao longo da semana, e aquela vontade de simplesmente não fazer nada, não pensar em nada e tão somente deixar o tempo passar como se não existisse amanhã. Uma cama quentinha ou um sofá aconchegante são tentações difíceis de resistir.

 

        Nada contra essas lufadas gélidas, em pleno outono, até porque faço parte daquele percentual privilegiado da população que tem um teto para se abrigar e roupas apropriadas para se aquecer. Trata-se de uma preparação para o clima invernal que se avizinha, um período de transição entre o calor do verão e o frio do inverno. Uma renovação constante que a natureza, em sua eterna sabedoria, nos ensina ano após ano.

 

        A lamentar apenas a incredulidade inerente ao ser humano, na sua empáfia inútil de não acreditar, e nem procurar entender, nesses ciclos universais, pois, como diria o pequeno príncipe de Antoine de Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos. Quando alcançarmos essa comunhão total e permanente com o Divino “aquilo que nesse momento se revelará aos povos/surpreenderá a todos não por ser exótico/mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/quanto terá sido óbvio” (Um índio, Caetano Veloso).

 

        Que sejam ares benfazejos.

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