Lá em Rondônia apesar de oficialmente existirem
as quatro estações do ano, somente duas são levadas em consideração, mesmo
assim de forma bem particularizada: inverno (período de chuvas) e verão (época
da seca), com duração aproximada de seis meses cada.
Entre uma e outra acontece o fenômeno da
“friagem”, quando, geralmente em julho/agosto, sopra um vento frio, que ora
desce dos Andes e de outras vezes sobe do sul. Não dura mais do que três dias,
mas serve para todo mundo tirar os casacos mofados dos armários. Coisa de uns
15 graus de temperatura.
Me lembrei disso por conta dessa segunda-feira
enevoada que o calendário religioso católico dedica à comemoração de Nossa
Senhora da Penha. As elevações costeiras quedaram cobertas por nuvens
cinzentas, enquanto uma brisa fresca soprava por entre as castanheiras que
ornamentam o calçadão à beira-mar.
Previsão de chuvas esparsas ao longo da
semana, e aquela vontade de simplesmente não fazer nada, não pensar em nada e tão
somente deixar o tempo passar como se não existisse amanhã. Uma cama quentinha
ou um sofá aconchegante são tentações difíceis de resistir.
Nada contra essas lufadas gélidas, em pleno
outono, até porque faço parte daquele percentual privilegiado da população que
tem um teto para se abrigar e roupas apropriadas para se aquecer. Trata-se de uma
preparação para o clima invernal que se avizinha, um período de transição entre
o calor do verão e o frio do inverno. Uma renovação constante que a natureza,
em sua eterna sabedoria, nos ensina ano após ano.
A lamentar apenas a incredulidade
inerente ao ser humano, na sua empáfia inútil de não acreditar, e nem procurar
entender, nesses ciclos universais, pois, como diria o pequeno príncipe de
Antoine de Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos. Quando alcançarmos
essa comunhão total e permanente com o Divino “aquilo que nesse momento se
revelará aos povos/surpreenderá a todos não por ser exótico/mas pelo fato de
poder ter sempre estado oculto/quanto terá sido óbvio” (Um índio,
Caetano Veloso).
Que sejam ares benfazejos.
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