terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Palavras

 

         Desde que em me entendo por gente, conforme se dizia antigamente, que sonhava em ser repórter. Entrevistar/ouvir pessoas. Voltar para a redação e colocar em laudas aquele relato. Me lembro até hoje da minha primeira matéria publicada em A Gazeta, no início dos anos 70. Foi uma reportagem de três ou quatro parágrafos sobre a instalação do DDD no Espírito Santo.

 

         DDD, para quem não sabe ou não lembra, significa Discagem Direta à Distância, sistema que permitia, e ainda permite, fazer ligações de uma cidade para outra sem a interferência de uma telefonista. Grande modernidade da época. A primeira vez que assinei um texto com meu nome, digamos, profissional – Rodrigo Pacheco – foi numa matéria de página inteira sobre as dificuldades econômicas da pecuária leiteira capixaba.

 

         De lá para cá já se passaram mais de 45 anos. E continuo pelejando com as palavras, seus significados, suas combinações, tentando, agora, ser um cronista. Meu Deus, quase meio século, e ainda sou um aprendiz. Será que dia virá em que terei o domínio sobre a escrita? De saber exprimir uma ideia para tocar o coração dos leitores? Pouco provável, tantas as nuances que existem num idioma.

 

         O poeta parnasiano Olavo Bilac definiu o português como “a última flor do Lácio/inculta e bela”. O grande crítico literário e professor Antônio Cândido afirmou: “A Literatura é o sonho acordado das civilizações”. Já o modernista Carlos Drummond de Andrade, o maior de sua geração, definiu: “Lutar com as palavras/é a luta mais vã/Entanto lutamos/mal rompe a manhã” (O Lutador).

 

         Nesse caminhar diário, em que a batalha pelo pão, não raras vezes, me afastou desse ideal, a única certeza é que é preciso praticar, praticar e praticar. Dedilhar um teclado à espera da inspiração mostra que quem não nasceu sabendo precisa transpirar muito.

 

         No dicionário, a palavra inspiração (um substantivo feminino) é a ideia ou pensamento que surge de repente, além do ato mecânico de respirar. A sua veia artística - do latim inspirare, que significada "soprar para dentro" - nasce de dentro para fora, e inspira o sonhador a desenhar, pintar, escrever, tocar, cantar, fotografar, etc. Para alguns, é divina; para outros, mera sinapse cerebral.

 

         Fico com a primeira hipótese. Que as nove musas filhas de Mnemósine ("Memória") e Zeus possam me inspirar cada vez mais, e que eu tenha capacidade de receber, conectado com a consciência universal, o que vier da fonte sagrada divina do belo, sob o manto de Atena, deusa grega da sabedoria, da justiça e da arte.

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