Desde que em me entendo por gente,
conforme se dizia antigamente, que sonhava em ser repórter. Entrevistar/ouvir
pessoas. Voltar para a redação e colocar em laudas aquele relato. Me lembro até
hoje da minha primeira matéria publicada em A Gazeta, no início dos anos
70. Foi uma reportagem de três ou quatro parágrafos sobre a instalação do DDD
no Espírito Santo.
DDD, para quem não sabe ou não lembra,
significa Discagem Direta à Distância, sistema que permitia, e ainda permite, fazer
ligações de uma cidade para outra sem a interferência de uma telefonista.
Grande modernidade da época. A primeira vez que assinei um texto com meu nome,
digamos, profissional – Rodrigo Pacheco – foi numa matéria de página inteira
sobre as dificuldades econômicas da pecuária leiteira capixaba.
De lá para cá já se passaram mais de 45
anos. E continuo pelejando com as palavras, seus significados, suas combinações,
tentando, agora, ser um cronista. Meu Deus, quase meio século, e ainda sou um
aprendiz. Será que dia virá em que terei o domínio sobre a escrita? De saber
exprimir uma ideia para tocar o coração dos leitores? Pouco provável, tantas as
nuances que existem num idioma.
O poeta parnasiano Olavo Bilac definiu
o português como “a última flor do Lácio/inculta e bela”. O grande crítico
literário e professor Antônio Cândido afirmou: “A Literatura é o sonho acordado
das civilizações”. Já o modernista Carlos Drummond de Andrade, o maior de sua
geração, definiu: “Lutar com as palavras/é a luta mais vã/Entanto lutamos/mal
rompe a manhã” (O Lutador).
Nesse caminhar diário, em que a batalha
pelo pão, não raras vezes, me afastou desse ideal, a única certeza é que é
preciso praticar, praticar e praticar. Dedilhar um teclado à espera da
inspiração mostra que quem não nasceu sabendo precisa transpirar muito.
No dicionário, a palavra inspiração
(um substantivo feminino) é a ideia ou pensamento que surge de repente, além do
ato mecânico de respirar. A sua veia artística - do latim inspirare, que significada "soprar para dentro" - nasce de dentro para fora, e inspira o sonhador a desenhar, pintar, escrever, tocar, cantar, fotografar, etc. Para alguns, é
divina; para outros, mera sinapse cerebral.
Fico com a primeira hipótese. Que as
nove musas filhas de Mnemósine ("Memória") e Zeus
possam me inspirar cada vez mais, e que eu tenha capacidade de receber, conectado
com a consciência universal, o que vier da fonte sagrada divina do belo, sob o
manto de Atena, deusa grega da sabedoria, da justiça e da arte.
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