O ano novo começou de uma maneira
totalmente inusitada.
Estava eu placidamente assistindo da
varanda do apartamento alugado onde moro, pelo menos até abril, quando vence o
contrato, uma vez que o proprietário pediu de volta o imóvel e colocou-o à
venda, a queima de fogos de artifícios que a Municipalidade ofereceu
audaciosamente, após dois anos, aos moradores e turistas, quando me deparei com
um cena absolutamente imprevisível.
Do nada, como se brotados do chão,
filhotes de cachorro com a pelagem totalmente branca surgiram caminhando
tropegamente na areia. Aqueles pequenos tufos de pelos alvos como a neve eram
aproximadamente uns dez. Quase não acreditando, chamei minha amada esposa de 43
anos de vida em comum para tentar entender aquilo, e ela ficou também super
impressionada, principalmente porque tem bastante amor pelos animais.
Os pequerruchos não tinham ninguém com
eles. Uns, afortunadamente, seguiram rumo às falésias, mas outros, uns dois ou
três, desconhecendo o perigo, se aproximaram em demasia da espuma branca e
foram tragados pelas ondas, no seu ritmo incessante de todos os dias, entra ano,
sai ano. Afastei-me, pois não quis ver o desfecho daquele ocorrido tão
inesperado, ainda mais para um primeiro de janeiro em seus minutos iniciais.
Se eu fosse um cara preocupado com as
coisas, e sou, ficaria imaginando mil teorias. E assim aconteceu. Por que tive
que ver aquilo? Quem soltou os filhotinhos, encaminhando-os para uma morte
quase certa? Qual a finalidade? Minha noite de réveillon restou prejudicada. E
todas as palavras bonitas que havia idealizado para esta crônica – tipo: esperança,
renovação, novo porvir, etc. e tal – foram, me perdoem o trocadilho, por água
abaixo.
É por isso que, às vezes, sou um tanto
cético com algumas coisas. A simples mudança de calendário (um dia para o
outro, um mês para outro e um ano para o outro) não significa nada se cada um permanecer
na sua própria caixa imutável de conforto. A transformação individual, passo
inicial para a melhora coletiva de uma comunidade, não importa o tamanho,
independe de datas.
Mesmo assim, o inconsciente coletivo
busca alcançar a força necessária que advém desses momentos simbólicos para
romper barreiras e melhorar, melhorar, melhorar. Ano novo, vida nova, diz o
ditado popular. Mas se a gente não fizer nossa parte, seremos também tragados
pelos próximos 364 dias de forma inexorável. O mundo não está para brincadeiras.
Alguém, por favor, pode me explicar o
mistério dos filhotinhos brancos abandonados na praia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário