No mesmo dia (11/11/21) em que postei uma
crônica com título idêntico, falando das perdas de pessoas queridas e das lembranças que elas deixam, chegou a notícia de que Tio Rogério,
irmão mais velho de meu pai, havia falecido, aos 94 anos de idade, enfrentando
corajosamente a doença que lhe afligia e mantendo a serenidade e o controle
possíveis numa situação daquela.
Aliás, Tio Rogério dizia, com razão,
que nem era o mais velho, porque dos quatro filhos do Seu Filogônio e de Dona
Valentina, todos nascidos no histórico casarão da rua 7 de Setembro, 415, em
Vitória (ele, Renato e Carlos Augustus, que se foram primeiro), o primogênito
era Geraldo, que, contudo, não sobreviveu mais do que alguns meses de vida.
Sinceramente, não lembro nada de ruim
dele. Só coisa boa. Claro, não era perfeito (como diria Jesus, quem não tiver
pecado que atire a primeira pedra), mas as inúmeras qualidades superavam, em
muito, os poucos defeitos e os pequenos deslizes. Era daquelas pessoas que nos
fazem acreditar que a humanidade ainda tem jeito, pelo carisma, o bom coração e
aquela garra de viver positivamente, com alegria e disposição em auxiliar o
próximo.
No leito hospitalar, provavelmente já
sabendo que tinha poucas chances de escapar, ainda assim não esmorecia, e fez um convite para toda a equipe profissional que lhe atendia para um
almoço na casa dele quando tivesse alta. O cardápio seria macarrão com camarão,
regado a um bom vinho, uma de suas paixões. Odontólogo de profissão, sabia de
tudo um pouco, nos vários campos do conhecimento, e sua memória incrivelmente
afiada lembrava pormenores dos acontecimentos nos ditos mínimos detalhes.
Não quis choro e nem vela. Determinou
que fosse cremado e as cinzas lançadas ao mar nas proximidades da ilha Rasa, em
Guarapari, um dos seus pesqueiros favoritos (aliás, pescar era outra de suas
alegrias), local, dizia, “dos peixes grandes”. A cerimônia
fúnebre, apesar da tocante emoção presente no ar, rescendia aos mais nobres
sentimentos de amor e de amizade, do jeito que ele desejava. Foi atendido.
O pouco conhecido e talentoso sambista
Adeilton Alves canta que “viver é uma ciência, que a gente deve aprender, para
não chorar, para não sofrer”, pois “quem não amou, quem não chorou, quem não
sofreu, passou pela vida mas a vida não viveu”, uma vez que “nem tudo é
espinho, ainda existe o amor”.
Nessa arte, Rogério Costa Pacheco foi
professor. E dos bons.
Que os ventos da eternidade lhe sejam
favoráveis nos mares infinitos por onde navega agora.
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