segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O sino da discórdia

 


         A calmaria dominical foi interrompida por um carro de som. Um estridente locutor conclamava a população a comparecer a um ato público em defesa da liberdade religiosa, contra o comunismo e a favor do direito constitucional de os sinos badalarem.

 

         Explico: um morador da cidade questionou junto à Prefeitura e ao Ministério Público se a Igreja Nossa Senhora da Conceição atendia à legislação pertinente à matéria quanto ao volume e à duração do toque do sino, que acontece diariamente às 6, 9, 12, 15 e 18 horas.

 

         A denúncia tramita nos escaninhos burocráticos, mas já gerou a criação, nas redes sociais, dos movimentos #EuSouAFavorDosSinos e #OSinoNaoPodeParar. Dizem os defensores do badalo de bronze que trata-se de uma ameaça, porque, na sequência, haverá também solicitação para que a própria celebração religiosa seja proibida.

 

         Que tempos vivemos!

 

         A ilação feita em relação ao questionamento do cidadão beira as raias do ridículo, mas nada mais é do que um reflexo do discurso de ódio que permeia a sociedade, como se Maniqueu tivesse novamente ressurgido da Pérsia para implantar a sua doutrina em solos tropicais.

 

         Até me considero um soldado do exército do bem na batalha contra o mal (como diria Zé Ramalho, A peleja do Diabo contra o dono do céu), mas é demais dizer que querer saber se o toque do sino está dentro dos limites de decibéis suportáveis pelo ouvido humano é uma demonstração de que os ateus estão se organizando para fechar as igrejas. Fala sério.

 

         Isso é falta do que fazer. É não saber discernir o errado do certo. É uma visão de mundo completamente distorcida, como se quem não vê as coisas de maneira idêntica à minha estivesse automaticamente condenado ao fogo infernal.

 

         Que os sinos badalem, principalmente quando se avizinha dezembro, o mês de nascimento de Jesus, o Salvador, mas se volume do som estiver fora dos padrões previstos nas normas de regência que seja feita a correção. E pronto, simples assim.

 

         Cuidemos da vida e de coisas realmente importantes, pois não podemos mais perder tempo com picuinhas inúteis que só afastam as pessoas de uma convivência solidária, pacífica e profícua.

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