A calmaria dominical foi interrompida
por um carro de som. Um estridente locutor conclamava a população a comparecer
a um ato público em defesa da liberdade religiosa, contra o comunismo e a favor
do direito constitucional de os sinos badalarem.
Explico: um morador da cidade
questionou junto à Prefeitura e ao Ministério Público se a Igreja Nossa Senhora
da Conceição atendia à legislação pertinente à matéria quanto ao volume e à
duração do toque do sino, que acontece diariamente às 6, 9, 12, 15 e 18 horas.
A denúncia tramita nos escaninhos
burocráticos, mas já gerou a criação, nas redes sociais, dos movimentos
#EuSouAFavorDosSinos e #OSinoNaoPodeParar. Dizem os defensores do badalo de
bronze que trata-se de uma ameaça, porque, na sequência, haverá também
solicitação para que a própria celebração religiosa seja proibida.
Que tempos vivemos!
A ilação feita em relação ao
questionamento do cidadão beira as raias do ridículo, mas nada mais é do que um
reflexo do discurso de ódio que permeia a sociedade, como se Maniqueu tivesse
novamente ressurgido da Pérsia para implantar a sua doutrina em solos tropicais.
Até me considero um soldado do exército
do bem na batalha contra o mal (como diria Zé Ramalho, A peleja do Diabo
contra o dono do céu), mas é demais dizer que querer saber se o toque do
sino está dentro dos limites de decibéis suportáveis pelo ouvido humano é uma
demonstração de que os ateus estão se organizando para fechar as igrejas. Fala
sério.
Isso é falta do que fazer. É não saber
discernir o errado do certo. É uma visão de mundo completamente distorcida,
como se quem não vê as coisas de maneira idêntica à minha estivesse
automaticamente condenado ao fogo infernal.
Que os sinos badalem, principalmente
quando se avizinha dezembro, o mês de nascimento de Jesus, o Salvador, mas se volume
do som estiver fora dos padrões previstos nas normas de regência que
seja feita a correção. E pronto, simples assim.
Cuidemos da vida e de coisas realmente
importantes, pois não podemos mais perder tempo com picuinhas inúteis que só
afastam as pessoas de uma convivência solidária, pacífica e profícua.
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