Não é que eu seja saudosista, mas esse
mundo tecnológico parece demasiadamente frio para quem teve oportunidade de
jogar bola no meio da rua, brincar de pique entre árvores e descer de carrinho
de rolimã uma ladeira de paralelepípedos. Acredito que esse jeito mais natural
ainda persista em algum rincão, mas não é mais o “novo normal”.
Entretanto, entendo que, ao jeito de
cada um, as crianças e jovens contemporâneas também têm uma maneira de ser
felizes. Faz parte, a meu ver, do caminho de todas as coisas, no sentido de conduzir
a humanidade para seu destino universalmente traçado. Computadores, celulares,
tabletes e jogos eletrônicos cumprem seu papel neste avanço inexorável.
Faço essa pequeno arrodeio tão somente para narrar
uma lembrança infanto-juvenil que não é minha, mas de uma pessoa querida, na
época em que havia “galos, noites e quintais”.
Era uma turma, para não dizer bando, de
meninos e meninas que morava na rua Eugênio Neto, na Praia do Canto (antiga
Praia Comprida), quando o mar ainda chegava até a beirada da avenida Saturnino
de Britto, o engenheiro que deu início à expansão urbana da capital capixaba. O
bairro era exclusivamente residencial, com moradias grandes e amplos terrenos,
onde as famílias tinham pomares e hortas.
Ali, todos se conheciam e os vizinhos
mantinham relacionamentos estreitos, que eram ampliados pela convivência diária
dos filhos e filhas. Numa daquelas casas, de migrantes italianos, havia uma nonna
ainda bastante ativa e que cultivava uma parreira com especial dedicação. A
videira se espalhava, como toda trepadeira, e, por conta dos cuidados que
recebia, era abundante em frutos.
Na época da safra, a notícia se
espalhava e crianças aos montes acorriam para aproveitar aquela dádiva da
Natureza. Contudo, tinha um porém. A vetusta senhora não queria ninguém por
perto do seu pé de uva e, por isso, a garotada precisava esperar que ela
estivesse ausente ou dormindo para degustar da fruta.
Mesmo assim, aqui e acolá o flagrante
acontecia e da forma mais inusitada. Vovó jogava baldes de água fria nos
ladrõezinhos e ainda corria atrás deles com uma ameaçadora vassoura nas mãos.
Tinha deles que nem faziam questão de comer, gostavam mesmo era da bagunça.
E aqui para nós: acho que todo aquele
movimento era uma festa também para a nonna, que se divertia com a adrenalina
da vida pulsando nas veias.
Tempos felizes. Aqueles que passaram, os
atuais e os futuros.
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