Antigamente, muitas profissões não eram
regulamentadas. As pessoas se tornavam jornalistas, contadores, odontólogos e inúmeras
atividades profissionais somente com o aprendizado com outros mais antigos que
também não tinham diplomas.
Uma das figuras mais conhecidas daquele
período era a do dentista prático. Muitas cidades tinham o seu, sem esquecer
daquele mais famoso, o Mártir da Independência Joaquim José da Silva Xavier, o
popular Tiradentes, atualmente considerado o Patrono da Odontologia.
Numa pequena urbe amazônica
destacou-se o “doutor” Alfredo Magalhães, conhecido por Alfredinho. Ele era
garimpeiro numa mina de cassiterita em Mapuera, no Amazonas, em uma localidade de
nome Pitinga. Cansado da árdua tarefa pouco lucrativa de tirar das entranhas do
solo o minério de estanho, resolveu mudar de ofício.
Tinha ficado amigo do dentista prático que
atuava na região e, num belo dia, perguntou:
- Rui, é difícil ser dentista?
- Nada, é a coisa fácil do mundo.
- Me ensina?
- Na hora.
Sem pensar duas vezes, jogou fora a pá
de garimpeiro e começou a aprender a nova ocupação.
Depois de poucos meses, já dominava os
fundamentos básicos principais, ganhou do professor uns “ferros” e foi procurar
outra vila onde não houvesse concorrência. Lá, formou uma ampla clientela,
pois, conforme diz o ditado, “em terra de cego, quem tem um olho é rei”. O
negócio ia de vento em popa.
Pode-se dizer que inovou nos métodos
terapêuticos. Basicamente, fazia somente extração de dentes. Colocava os
pacientes um ao lado do outro. Vinha com a seringa de ponta de ferro cheia de
anestesia e ia aplicando um pouco em cada boca (autoclave, esterilização nem
pensar).
Quando chegava no último, o primeiro já
estava anestesiado e pronto para encarar o boticão e mostrar a raiz do dente para
o sol. Verdadeira linha de montagem, ou desmontagem, dependendo do ponto de
vista.
Com o tempo, arrumou melhor a saleta e
passou a atender individualmente. Um pequeno biombo separava a sala de espera
do consultório. Em determinada ocasião, duas moças aguardavam atendimento e
debatiam.
- Será que ele é formado? – questionou uma
delas.
- Claro que é – respondeu a outra.
- Eu acho que não – replicou a
incrédula.
Quando chegou a vez delas, a que tinha
dúvidas foi logo perguntando:
- Doutor Alfredinho, o senhor é
formado?
O prático, que tinha ouvido a conversa
por cima da abertura do anteparo, fez aquela pose de quem tem tudo no mais
absoluto controle e devolveu o questionamento:
- A senhorita já ouviu falar na
Universidade Federal de Pitinga?
- Não – balbuciou a jovem.
- Pois foi lá que me formei.
A colega imediatamente deu uma cotovelada
na amiga:
- Eu não disse que ele era formado.
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