A palavra que dá título a esta crônica
era usada antigamente (quer dizer, século passado), no Brasil, para designar aqueles
passeios em praças ou avenidas das cidades em que rapazes e moças passavam para
lá e para cá trocando olhares furtivos e, quando havia oportunidade,
considerando os conceitos morais da época, conversando rapidamente e, até
mesmo, em alguns casos, dando início a namoricos platônicos que, com sorte,
resultavam em casamentos, pois havia data e hora em que aqueles encontros se repetiam
semanalmente. Era uma espécie de divertimento, a opção de lazer em tempos idos.
Sob o ângulo da etimologia é considerada pelos
eruditos “falso anglicismo, recebido do francês”. No idioma de Voltaire, footing
significa “o esporte de pedestrianismo”. No inglês, está relacionada a
andar, caminhar. Em português, como nota Aires da Mata Machado Filho em Grande coleção da língua portuguesa,
“pelo menos em alguns lugares, um passeio a pé em que o esporte já não figura
como propósito dominante”. Seria “ponto de encontro de paquera, de exibição…”
(Ignácio de Loyola Brandão, Leia,
1989).
Me lembrei disso (ressaltando que não sou tão
velho a ponto de ter feito footing) ao passear dias desses num
finalzinho de tarde pelo calçadão da praia, onde a sombra das castanheiras (que
andaram tentando derrubar, vejam só!) amenizava o calor dos passantes, entremeados
no meio de vendedores ambulantes e pedintes.
Obviamente que não trata aqui de um footing
clássico, mas apenas aquele vai e vem preguiçoso de um dia de estio, após
uma manhã de praia. Casais de todas as idades, uns acelerados, outros caminhando
mansamente, alguns de mãos dadas, dividiam o espaço democrático, que a
liberdade do ir e vir garante (até quando, meu Deus?), com avôs e avós
empurrando crianças em carrinhos. Havia ainda afoitos ciclistas, esqueitistas
despreocupados com a segurança e corredores em busca do corpo perfeito.
Nos bancos, a pausa para retomar o fôlego era
aproveitada para atualizar as mensagens no celular, aquele aparelhinho que hoje
em dia serve até para telefonar. Na areia, turistas se ocupavam em arrumar
cadeiras, isopores trazidos recheados de comida e bebidas, guarda-sóis e outras
tralhas vindas de casa, encerrando o expediente, sem intervalo para almoço, de
um cansativo dia de trabalho à beira-mar.
Pássaros às dezenas, em grande estardalhaço,
buscam abrigo nas copas das árvores, onde passarão a noite em silencioso
repouso. O povo, por sua vez, ainda continuará a caminhar mais algumas horas,
apreciando o nascer do luar acima da linha do horizonte demarcada pelo oceano,
para tudo recomeçar na manhã seguinte, pelo menos enquanto for verão ou os
tempos pandêmicos permitirem.
Já não se fazem mais footings como antigamente.
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