segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Footing


          A palavra que dá título a esta crônica era usada antigamente (quer dizer, século passado), no Brasil, para designar aqueles passeios em praças ou avenidas das cidades em que rapazes e moças passavam para lá e para cá trocando olhares furtivos e, quando havia oportunidade, considerando os conceitos morais da época, conversando rapidamente e, até mesmo, em alguns casos, dando início a namoricos platônicos que, com sorte, resultavam em casamentos, pois havia data e hora em que aqueles encontros se repetiam semanalmente. Era uma espécie de divertimento, a opção de lazer em tempos idos.

 

Sob o ângulo da etimologia é considerada pelos eruditos “falso anglicismo, recebido do francês”. No idioma de Voltaire, footing significa “o esporte de pedestrianismo”. No inglês, está relacionada a andar, caminhar. Em português, como nota Aires da Mata Machado Filho em Grande coleção da língua portuguesa, “pelo menos em alguns lugares, um passeio a pé em que o esporte já não figura como propósito dominante”. Seria “ponto de encontro de paquera, de exibição…” (Ignácio de Loyola Brandão, Leia, 1989).

 

Me lembrei disso (ressaltando que não sou tão velho a ponto de ter feito footing) ao passear dias desses num finalzinho de tarde pelo calçadão da praia, onde a sombra das castanheiras (que andaram tentando derrubar, vejam só!) amenizava o calor dos passantes, entremeados no meio de vendedores ambulantes e pedintes.

 

Obviamente que não trata aqui de um footing clássico, mas apenas aquele vai e vem preguiçoso de um dia de estio, após uma manhã de praia. Casais de todas as idades, uns acelerados, outros caminhando mansamente, alguns de mãos dadas, dividiam o espaço democrático, que a liberdade do ir e vir garante (até quando, meu Deus?), com avôs e avós empurrando crianças em carrinhos. Havia ainda afoitos ciclistas, esqueitistas despreocupados com a segurança e corredores em busca do corpo perfeito.

 

Nos bancos, a pausa para retomar o fôlego era aproveitada para atualizar as mensagens no celular, aquele aparelhinho que hoje em dia serve até para telefonar. Na areia, turistas se ocupavam em arrumar cadeiras, isopores trazidos recheados de comida e bebidas, guarda-sóis e outras tralhas vindas de casa, encerrando o expediente, sem intervalo para almoço, de um cansativo dia de trabalho à beira-mar.

 

Pássaros às dezenas, em grande estardalhaço, buscam abrigo nas copas das árvores, onde passarão a noite em silencioso repouso. O povo, por sua vez, ainda continuará a caminhar mais algumas horas, apreciando o nascer do luar acima da linha do horizonte demarcada pelo oceano, para tudo recomeçar na manhã seguinte, pelo menos enquanto for verão ou os tempos pandêmicos permitirem.

 

Já não se fazem mais footings como antigamente. 

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