sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

"1984"

 


          O Telegram, concorrente direto do WhatsApp, divulgou mensagem comemorando ter ultrapassado o total de 500 milhões de usuários ativos. Na data do anúncio, 12 de janeiro, dizia o texto que “só nas últimas 72 horas, mais de 25 milhões de novas pessoas ao redor do mundo entraram para o Telegram”.

 

          Tanta adesão tem uma explicação. Circula nas mídias sociais um vídeo informando (ou não, depende do ponto de vista) que o WhatsApp vai mudar, invadindo, ainda mais, segundo consta, a privacidade de homens e mulheres em todo o planeta.

 

          Relembra o pequeno documentário de pouco mais de três minutos que o Facebook comprou o Instagram, em 2012, por módicos 1 bilhão de dólares, para não ser ultrapassado por aquela plataforma. O mesmo motivo levou, em 2014, à compra do WhatsApp, também pelo Facebook, pela bagatela de 19 bilhões de dólares.

 

          Atualmente, o Facebook é acusado, nos Estados Unidos, por atitudes nefastas que visam garantir seu monopólio no controle e difusão de conteúdos on line. Só para se ter uma ideia, o WhatsApp detém 2 bilhões de contas. Foi idealizado por Jam Koum, um ucraniano obcecado por garantir a criptografia nas mensagens de ponta a ponta.

 

          Disse: “Nós queríamos saber o mínimo possível sobre nossos usuários. Nós não éramos direcionados pela propaganda, então não precisávamos de dados pessoais”. Hoje em dia, com bombardeio direcionado de anúncios, as corporações precisam conhecer detalhes com quem estão falando, ou seja, necessitam ter o máximo possível de informações sobre os consumidores, o que eles gostam, o que eles acessam, quanto ganham, onde moram etc.

 

          Por causa disso, a partir de 1º de fevereiro isso será uma constante diária, com a nova política de privacidade que o Facebook irá implantar no WhatsApp de forma obrigatória: quem não aceitar, será banido. Sigilo zero deixará de existir, e o “Grande Irmão” previsto na obra 1984, de George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, escritor inglês nascido na Índia, começará, para muitos, se tornar uma realidade. Registre-se que o livro foi lançado em 1949.

         

          A obra do escritor é profética também sobre a questão da quebra de privacidade. O avanço tecnológico permite um amplo monitoramento (dos satélites às microcâmeras). Nos Estados Unidos, por exemplo, a ONG New York Civil Liberties Union protesta regularmente contra a existência de 40,76 câmeras instaladas por quilômetro quadrado em Manhattan. (leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/saiba-mais-sobre-o-livro-1984-de-george-orwell/). A arte, mais uma vez, refletindo a realidade.

 

          Tudo isso tem motivado a migração para o Telegram, até um dia, é crível supor, em que ele também será engolido por algum leviatã econômico. Coincidentemente, se é que coincidências existem, essas coisas acontecem numa época em que o mundo ficou meses (e poderá ficar mais) paralisado por causa do novo coronavírus, em que a maioria da população, entocada entre quatro paredes, dependeu, cada vez mais, do celular, da televisão e do computador para manter algum contato externo.

 

          Cuidado. Existe um Olhão te vigiando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário