Dias desses, vinha eu trotando na minha
caminha matinal no calçadão central de Guarapari, quando, já fazendo o percurso
de volta, tive que dar uma freada, uma vez que na ladeirinha da praia das
Virtudes quatro balzaquianas, com aquele tradicional sotaque mineiro, andavam
pausadamente uma do lado da outra, obstruindo a passagem de quem vinha mais acelerado.
Conversavam como se estivessem na sala
de casa. Enquanto esperava uma oportunidade para ultrapassá-las fui praticamente
obrigado a ouvir o palpitante tema que animava as turistas. Elas se deliciavam
em comentar as agruras da filha de uma amiga, que, obviamente, não estava ali
naquele momento.
Duas das integrantes do quarteto eram
as mais instigantes, ao dizer que a menina não tinha vontade para nada.
A jovem acordava, e não tinha coragem para arrumar a cama. Se os pais saíam
para trabalhar ficava sem comer, pois carecia de disposição para coar um café
ou ajeitar alguma coisa na mesa. Era um ser que respirava porque não precisava
fazer nenhum esforço para inserir oxigênio nos pulmões.
E o veredito foi unânime:
- Uma pessoa dessas não tem gosto
viver!
Achei, após superá-las usando um
cantinho junto ao meio-fio, que havia alguma razoabilidade naquelas ponderações.
Afinal, todo mundo precisa ter disposição para a vida. Uma adolescente tão
inerte não pode querer chegar à idade adulta e ser capaz de enfrentar as
agruras do dia-a-dia. Mais do que isso, conseguir vislumbrar uma luz no final
do túnel.
Circula na internet um vídeo da
psicóloga Márcia Luz, extraído de uma entrevista que a profissional concedeu ao
programa “Domingo Espetacular”, da TV Record. Na reportagem, ela faz uma
comparação, a meu ver, interessante, dizendo que a gente já nasceu reclamando,
pois o bebê tem a sua primeira manifestação através do choro. E até determinada fase do
crescimento, continua chorando para pedir alimento ou para fazer birra.
Nesse aspecto, Márcia Luz explica que
ver um adulto reclamando de tudo (como se fosse um “choro”) é muito
desagradável e não resolve nada, pois as soluções dos problemas estão na
mudança de foco. Em vez de reclamar que precisa de mais dinheiro, agradecer as
bençãos recebidas e o que já tem, por exemplo. Para ela, gratidão é um novo olhar. Em vez de
problemas, bençãos; em vez de dificuldades, oportunidade; no lugar de olhar
para o que não está dando certo, olhar para o que está funcionando.
Ao mudar o olhar, mudam-se os
resultados. O “choro” de hoje não resolve da maneira na época da infância. Não
se pode viciar o olhar na reclamação. Quanto mais reclamações, mais problemas.
Por isso, devemos agradecer e aí a vida nos dá mais daquilo que a gente está
gostando, estimulando o cérebro a produzir substâncias que fazem tudo dar certo.
Simples assim.
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