domingo, 19 de janeiro de 2020

Gosto de viver




        Dias desses, vinha eu trotando na minha caminha matinal no calçadão central de Guarapari, quando, já fazendo o percurso de volta, tive que dar uma freada, uma vez que na ladeirinha da praia das Virtudes quatro balzaquianas, com aquele tradicional sotaque mineiro, andavam pausadamente uma do lado da outra, obstruindo a passagem de quem vinha mais acelerado.

     Conversavam como se estivessem na sala de casa. Enquanto esperava uma oportunidade para ultrapassá-las fui praticamente obrigado a ouvir o palpitante tema que animava as turistas. Elas se deliciavam em comentar as agruras da filha de uma amiga, que, obviamente, não estava ali naquele momento.

          Duas das integrantes do quarteto eram as mais instigantes, ao dizer que a menina não tinha vontade para nada. A jovem acordava, e não tinha coragem para arrumar a cama. Se os pais saíam para trabalhar ficava sem comer, pois carecia de disposição para coar um café ou ajeitar alguma coisa na mesa. Era um ser que respirava porque não precisava fazer nenhum esforço para inserir oxigênio nos pulmões.

          E o veredito foi unânime:

          - Uma pessoa dessas não tem gosto viver!

          Achei, após superá-las usando um cantinho junto ao meio-fio, que havia alguma razoabilidade naquelas ponderações. Afinal, todo mundo precisa ter disposição para a vida. Uma adolescente tão inerte não pode querer chegar à idade adulta e ser capaz de enfrentar as agruras do dia-a-dia. Mais do que isso, conseguir vislumbrar uma luz no final do túnel.

          Circula na internet um vídeo da psicóloga Márcia Luz, extraído de uma entrevista que a profissional concedeu ao programa “Domingo Espetacular”, da TV Record. Na reportagem, ela faz uma comparação, a meu ver, interessante, dizendo que a gente já nasceu reclamando, pois o bebê tem a sua primeira manifestação através do choro. E até determinada fase do crescimento, continua chorando para pedir alimento ou para fazer birra.

          Nesse aspecto, Márcia Luz explica que ver um adulto reclamando de tudo (como se fosse um “choro”) é muito desagradável e não resolve nada, pois as soluções dos problemas estão na mudança de foco. Em vez de reclamar que precisa de mais dinheiro, agradecer as bençãos recebidas e o que já tem, por exemplo. Para ela, gratidão é um novo olhar. Em vez de problemas, bençãos; em vez de dificuldades, oportunidade; no lugar de olhar para o que não está dando certo, olhar para o que está funcionando.

          Ao mudar o olhar, mudam-se os resultados. O “choro” de hoje não resolve da maneira na época da infância. Não se pode viciar o olhar na reclamação. Quanto mais reclamações, mais problemas. Por isso, devemos agradecer e aí a vida nos dá mais daquilo que a gente está gostando, estimulando o cérebro a produzir substâncias que fazem tudo dar certo.

          Simples assim.

         
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário