O porteiro aqui do prédio estava
eufórico.
Seu passarinho campeão de canto, com o
nome “Presidente”, tinha sido vendido por 7 mil reais.
Trata-se de um coleiro ou coleirinho ou
papa-capim, espécie muito conhecida em todo o Brasil, com exceção da Amazônia,
e um dos preferidos dos criadores brasileiros, mas também bastante perseguido
pelos traficantes de animais por conta de sua qualidade canora.
Não sabia que um bichinho daqueles pudesse
valer tanto dinheiro. “Presidente” nasceu em cativeiro, e o espaço maior que
conheceu foi uma gaiola para voo, com tamanhos de 62 x 24 x 34 centímetros, de
madeira ou ferro, ou até um pouco mais compridas ou altas, utilizada para
treinamento. Estima-se que existam 500 mil pessoas em todo o país que criam
pássaros.
Lembrei-me dos anos 70, quando também
tinha o costume de manter coleirinhos em gaiolas. Era moda entre a garotada
cada um ter seu pássaro, às vezes até uns dois ou três. Alguns meninos tinham
alçapões e andavam pelos campos daquele interior capturando as aves, que depois
eram objeto de trocas.
O vendedor chegava com o coleiro e para passá-lo
para a gaiola do comprador usava-se a seguinte técnica: encostava-se a janela
de uma gaiola na outra e, assim, o passarinho mudava de “casa”. Uma das moedas mais
apreciadas eram figurinhas do álbum de Telecatch, aquele dos lutadores Ted Boy
Marino (a mais valorizada), Rasputin Barba Vermelha, Múmia e outros menos
cotados.
Uma vez adquiri um coleiro ao custo de
um álbum completo. Encostei minha gaiola com a janela do lado esquerdo na
janela do lado direito da outra gaiola onde estava o pássaro. Por descuido,
porém, deixei a janela do lado direito da minha gaiola aberta e a ave
simplesmente passou de um lado para o outro e sumiu no espaço infinito. Minha
decepção foi tão grande que encerrei ali minha experiência juvenil nesta área.
Tempos depois, já adulto e casado,
aventei a possibilidade de comprar um canário para ter em casa. Minha mulher
simplesmente disse que eu poderia até adquirir o pássaro, mas na primeira
oportunidade ela iria soltá-lo. Em benefício da harmonia conjugal achei melhor
não levar a ideia adiante. Tudo pela paz no lar.
Enfim, criar pássaros, pelo visto, é uma
atividade rentável. Talvez até tenha um caráter preservacionista, considerando
o nível de destruição ecológica que vem acabando com o habitat de muitas
espécies, não só de aves como também de mamíferos, peixes e répteis, tanto na terra quanto na água.
Hoje em dia, porém, prefiro colocar diariamente
umas bananas na mureta da varanda e ver belas aves coloridas, cujos nomes
desconheço, apreciarem o alimento. E parece que se criou um costume, pois
quando me atraso escuto um tipo de canto que mais parece protesto e exigência
do que suaves melodias.
Acho que fiquei, de alguma maneira,
responsável por garantir o pão de cada dia deles. É o tal do cativar? Quem sabe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário