sábado, 23 de novembro de 2019

Será?




            Em todos os lugares do mundo existem relatos do imaginário popular que, num primeiro momento, podem soar como inverossímeis. Contudo, é cediço que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, daí porque se alguma coisa parece difícil de acreditar, podemos, em vez em afastar de plano qualquer possibilidade de veracidade, colocar o tema num cantinho da memória e dar tempo ao tempo para chegarmos a uma compreensão.

            Vou relatar numa série de três ou mais crônicas alguns acontecimentos que chegaram aos meus ouvidos e que estão dentro desta linha fantástica, em seu sentido mais amplo de algo que está além do nosso entendimento, mas que necessariamente não significa que inexiste.

            Vamos lá.

O lenhador e o maquinista

            Aquele negócio já estava ficando chato.

            Era uma trabalheira medonha derrubar a árvore, cortar os galhos, serrar o tronco, rachar a lenha e empilhá-la no pátio da estação do trem. Mas o danado do maquinista passava direto. O lenhador nem conhecia o cara, e ele, sabe-se lá o motivo, fingia que não via o sinal para parar.

            Depois de algumas tentativas inúteis, o lenheiro resolveu passar graxa nos trilhos, imaginando que, assim, a velha maria-fumaça, ao subir a elevação que havia antes da gare, perderia velocidade e, então, poderia colocar os paus no vagão de carga e garantir, dessa maneira, seu suado dinheirinho. Mesmo assim, a locomotiva a vapor, apitando e resfolegando, seguia em frente.

O jeito foi apelar para o sobrenatural. Conhecedor de muitas mandingas, o jovem lenhador, assim que o maquinista, mais uma vez, não atendeu ao seu aviso, embrenhou-se na mata, tirou a roupa e sumiu. Reapareceu, já vestido, na estação seguinte, quilômetros à frente, onde chegou primeiro do que o trem.

O maquinista encrenqueiro não conseguiu conter o espanto ao ver diante de si aquele homem que tinha deixado lá atrás. Como era possível ele estar ali? Ter chegado primeiro do que o comboio ferroviário? Sem aparentar cansaço e nem estar suado? Não, algo não estava certo. Era melhor ter cuidado, pois uma coisa dessa não é natural.

Na próxima viagem, parou cordialmente para que o lenhador misterioso colocasse a lenha a bordo. Por via das dúvidas, até deu uma mãozinha para auxiliar a carregar.

Afinal, com gente dessa qualidade não se deve brincar.

           

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