Em todos os lugares do mundo existem
relatos do imaginário popular que, num primeiro momento, podem soar como inverossímeis.
Contudo, é cediço que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, daí
porque se alguma coisa parece difícil de acreditar, podemos, em vez em afastar
de plano qualquer possibilidade de veracidade, colocar o tema num cantinho da
memória e dar tempo ao tempo para chegarmos a uma compreensão.
Vou relatar numa série de três ou
mais crônicas alguns acontecimentos que chegaram aos meus ouvidos e que estão dentro
desta linha fantástica, em seu sentido mais amplo de algo que está além do
nosso entendimento, mas que necessariamente não significa que inexiste.
Vamos lá.
O
lenhador e o maquinista
Aquele negócio já estava ficando
chato.
Era uma trabalheira medonha derrubar
a árvore, cortar os galhos, serrar o tronco, rachar a lenha e empilhá-la no
pátio da estação do trem. Mas o danado do maquinista passava direto. O lenhador
nem conhecia o cara, e ele, sabe-se lá o motivo, fingia que não via o sinal
para parar.
Depois de algumas tentativas
inúteis, o lenheiro resolveu passar graxa nos trilhos, imaginando que, assim, a
velha maria-fumaça, ao subir a elevação que havia antes da gare, perderia
velocidade e, então, poderia colocar os paus no vagão de carga e garantir,
dessa maneira, seu suado dinheirinho. Mesmo assim, a locomotiva a vapor,
apitando e resfolegando, seguia em frente.
O jeito foi apelar para o sobrenatural.
Conhecedor de muitas mandingas, o jovem lenhador, assim que o maquinista, mais
uma vez, não atendeu ao seu aviso, embrenhou-se na mata, tirou a roupa e sumiu.
Reapareceu, já vestido, na estação seguinte, quilômetros à frente, onde chegou
primeiro do que o trem.
O maquinista encrenqueiro não conseguiu
conter o espanto ao ver diante de si aquele homem que tinha deixado lá atrás.
Como era possível ele estar ali? Ter chegado primeiro do que o comboio
ferroviário? Sem aparentar cansaço e nem estar suado? Não, algo não estava certo.
Era melhor ter cuidado, pois uma coisa dessa não é natural.
Na próxima viagem, parou cordialmente para
que o lenhador misterioso colocasse a lenha a bordo. Por via das dúvidas, até deu
uma mãozinha para auxiliar a carregar.
Afinal, com gente dessa qualidade não se
deve brincar.
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