domingo, 10 de novembro de 2019

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        Nos idos da juventude imaginava tanta coisa.

        Sonhava ser uma cantora famosa, que atrairia multidões aos seus shows, emocionando corações com sua voz afinadíssima e com músicas que falariam de amor, de alegria e da natureza.

        Quem sabe, poderia também enveredar pela poesia, publicando rimas e prosas e sendo aclamada por críticos e leitores entusiasmados. Seus livros venderiam milhares de cópias, e receberia inúmeros prêmios literários.

        Havia também as artes plásticas. Gostava de desenhar, usar lápis e aquarelas para expressar seus sentimentos através dos rostos e das paisagens que ocupavam páginas brancas com seus rabiscos coloridos e linhas curvas e retas.

        Porém, as coisas nem sempre acontecem do que jeito que são idealizadas. A realidade da vida, inflexível e sem piedade, às vezes conduz as pessoas para caminhos outros que não aqueles inicialmente pretendidos.

        Casamento, filhos, responsabilidades, divórcio. O piano ficou de lado. Os poemas, em alguma gaveta. Os desenhos, incompletos.

        Eis que, como se o destino já tivesse traçado o futuro, o que havia vislumbrado como uma possibilidade se materializou nos filhos. Um se tornou músico e compositor. Outro, desenhista gráfico e ilustrador. Ambos talentosos e com carreiras promissoras. Nos trabalhos deles, vê a si mesma.

        Seu ideal juvenil transcendeu uma geração. Através dos descendentes, tão próximos e amados, se sente realizada. O que não conseguiu atingir, seus meninos, sangue de seu sangue, mostram ao mundo que uma vida nunca é desperdiçada quando se abre caminhos para que quem nos sobrevir possa alcançar suas metas.

        Não fez, mas seus filhos fazem por ela.

        Deus sabe o que faz.

       

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