quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Imensidões

 


         Estava a contemplar o mar, imaginando o que existe além do horizonte (atenção, eu não faço parte de nenhum grupo de terraplanistas), e me lembrei de uma outra imensidão, a floresta amazônica.

 

         Morei, conforme é cediço, mais de 30 anos na cidade de Porto Velho, em Rondônia, e tive oportunidade de vivenciar algumas experiências naquele ambiente, claro que acompanhado de pessoas experientes e conhecedoras, os ditos mateiros, pois minhas raízes urbanas sempre falaram mais alto.

 

         Quer me parecer que a floresta e o oceano representam, simbolicamente, uma mesma dimensão , qual seja, parte da grandeza divina neste plano terreno, pois o tamanho de ambos é tão incomensurável que remete ao Criador e seu infinito poder.

 

         Já andei horas na floresta, em busca de plantas, já dormi debaixo daquelas árvores imensas, já vi chuvas torrenciais e nunca deixei de sentir medo. Assistir documentários com bonitas imagens (e realmente são impressionantes) é uma coisa. Estar lá dentro é outra bem diferente.

 

         A floresta intocada é um ambiente que não admite erros. Os nordestinos que nos tempos dos Soldados da Borracha desbravaram aquela região merecem, na minha modesta opinião, o título de heróis. Varar por aqueles caminhos, com cipós prendendo na roupa, troncos atravessados, insetos incontáveis e muito, muito calor úmido, não é brincadeira.

 

         Na primeira vez que participei de uma aventura dessa, recém-chegado de Vitória, foram três dias de trabalho exaustivo. No segundo, chorei, com pena de mim mesmo, por me sentir tão incapaz no meio daquele mundo desconhecido e ao mesmo tempo belo e perigoso.

 

         Conheci seringais remanescentes, e seus moradores perfeitamente adaptados àquele modo de vida, muitos já agrupados em cooperativas extrativistas, mas ainda dependentes da caça e da pesca como garantia de alguma proteína na alimentação diária, mesmo que empiricamente.

 

         O dom da profecia ainda não alcancei, e enxergo pouca coisa além do meu nariz, mas sei, por experiência própria, que interesses econômicos diversos têm feito de tudo para acabar com a floresta. Exemplo: nos anos 90, da porta da minha casa era possível avistar uma linha de árvores nativas nos limites da cidade; dez anos depois, novos bairros haviam surgido. Outra: em 85, quando fui para o Norte andavam-se quilômetros e quilômetros margeando floresta ao longo da BR 364; em 2019, quando voltei, também de carro, restavam, nos mesmos trechos, somente pastos e plantações de soja e sorgo.

 

         Mas, acredito que os madeireiros e fazendeiros não terão vida fácil, porque se em Rondônia já avançaram bastante, no Acre e no Amazonas ainda restam vastidões desconhecidas que resistem e se mantém incólumes, com seu pulsar de vida e mistérios não desvendados.

 

         Mar e floresta. Deus manifestado.

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