Estava a contemplar o mar, imaginando o
que existe além do horizonte (atenção, eu não faço parte de nenhum grupo de terraplanistas),
e me lembrei de uma outra imensidão, a floresta amazônica.
Morei, conforme é cediço, mais de 30
anos na cidade de Porto Velho, em Rondônia, e tive oportunidade de vivenciar
algumas experiências naquele ambiente, claro que acompanhado de pessoas
experientes e conhecedoras, os ditos mateiros, pois minhas raízes urbanas
sempre falaram mais alto.
Quer me parecer que a floresta e o
oceano representam, simbolicamente, uma mesma dimensão , qual seja, parte da
grandeza divina neste plano terreno, pois o tamanho de ambos é tão
incomensurável que remete ao Criador e seu infinito poder.
Já andei horas na floresta, em busca de
plantas, já dormi debaixo daquelas árvores imensas, já vi chuvas torrenciais e
nunca deixei de sentir medo. Assistir documentários com bonitas imagens (e
realmente são impressionantes) é uma coisa. Estar lá dentro é outra bem
diferente.
A floresta intocada é um ambiente que
não admite erros. Os nordestinos que nos tempos dos Soldados da Borracha
desbravaram aquela região merecem, na minha modesta opinião, o título de
heróis. Varar por aqueles caminhos, com cipós prendendo na roupa, troncos
atravessados, insetos incontáveis e muito, muito calor úmido, não é
brincadeira.
Na primeira vez que participei de uma
aventura dessa, recém-chegado de Vitória, foram três dias de trabalho
exaustivo. No segundo, chorei, com pena de mim mesmo, por me sentir tão incapaz
no meio daquele mundo desconhecido e ao mesmo tempo belo e perigoso.
Conheci seringais remanescentes, e seus
moradores perfeitamente adaptados àquele modo de vida, muitos já agrupados em
cooperativas extrativistas, mas ainda dependentes da caça e da pesca como
garantia de alguma proteína na alimentação diária, mesmo que empiricamente.
O dom da profecia ainda não alcancei, e
enxergo pouca coisa além do meu nariz, mas sei, por experiência própria, que
interesses econômicos diversos têm feito de tudo para acabar com a floresta.
Exemplo: nos anos 90, da porta da minha casa era possível avistar uma linha de
árvores nativas nos limites da cidade; dez anos depois, novos bairros haviam
surgido. Outra: em 85, quando fui para o Norte andavam-se quilômetros e
quilômetros margeando floresta ao longo da BR 364; em 2019, quando voltei,
também de carro, restavam, nos mesmos trechos, somente pastos e plantações de
soja e sorgo.
Mas, acredito que os madeireiros e
fazendeiros não terão vida fácil, porque se em Rondônia já avançaram bastante,
no Acre e no Amazonas ainda restam vastidões desconhecidas que resistem e se
mantém incólumes, com seu pulsar de vida e mistérios não desvendados.
Mar e floresta. Deus manifestado.
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