domingo, 5 de dezembro de 2021

Ruído na comunicação

 


Casalzinho recém-casado é só love. Naquela modorrenta manhã de domingo o jovem mancebo acordou com o celular tocando. Eram seus dois melhores amigos, que moravam no mesmo prédio, convidando-o para um banho de piscina na área de lazer do condomínio. Convite aceito, sussurrou no ouvido da mulher adormecida:

 

- Amor, foi tomar um banho de piscina. Durma mais e não se preocupe com o almoço que depois eu dou meu jeito.

 

Satisfeito com a atenção dedicada à sua esposa, seguiu despreocupado ao encontro dos companheiros, e ficaram os três jogando conversa fora entre um mergulho e outro. Por volta de meio-dia, o smartphone disparou uma canção melosa estilo sertanejo universitário. Era ela.

 

Antes que pudesse dizer ao menos alô, ouviu uma saraivada de impropérios. Rapidamente, procurou um canto reservado para entender o que estava acontecendo. Os amigos perceberam que tinha alguma coisa fora da normalidade, e chegaram juntos.

 

O problema é que a mulher havia entendido tudo ao contrário. Em vez de “não se preocupe com o almoço” ouviu que era para levantar logo e preparar uma suculenta refeição pois os inseparáveis parças chegariam em breve para apreciar a boca livre. E já passava das 12 horas. A comida tinha até esfriado.

 

O pior é que se achando extremamente desrespeitada, proibiu-o de voltar para casa, e não queria ver mais nenhum dos outros culpados por aquela desfeita. E agora? Um deles, padrinho de casamento, conhecido por sua capacidade de se virar nos trinta, resolveu tomar as dores do amigo, que, sem ação, estava atordoado.

 

Correu até a padaria mais próxima, reuniu as balconistas e explicou a situação, conclamando: “Precisamos salvar esse casamento”. Movidas por uma solidariedade que só o ideal romântico explica, arrumaram uma cestinha de vime, encheram de doces e outras guloseimas, passaram umas fitas coloridas e, pronto, o presente da reconciliação foi entregue.

 

Na emoção do momento e na pressa de sanar imediatamente a situação, saíram correndo, não pagaram e nem foram cobrados. As moças, emocionadas por aquela boa ação, ainda desejaram: “Boa sorte”.

 

Na porta do apartamento, enquanto o marido escorraçado e o amigo medroso se escondiam num canto do corredor, o best man, sobraçando a lembrança, acionou a campainha, chamando, através da porta, pela amiga. Em resposta, ouviu um “vão embora”. Depois de alguma insistência a chave tetra pack estalou na fechadura. Com o rosto desfigurado pelo choro e o cabelo despenteado, ouviu as explicações e recebeu o presente, caindo novamente em pranto compulsivo, desta vez de alegria.

 

Três dias depois o quase ex-marido voltou à padaria para quitar a dívida.

 

E transmitir a notícia que tinha dado tudo certo.

 

 


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