domingo, 19 de dezembro de 2021

Caminhar

 


        O nunca esquecido cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, em Pra não dizer que não falei das flores, cantou: “Caminhando e cantando e seguindo a canção/Somos todos iguais, braços dados ou não/Nas escolas, nas ruas, campos, construções/Caminhando e cantando e seguindo a canção”.

 

         Já Caetano Veloso, o baiano mais famoso de Santo Amaro da Purificação, compôs o hino de uma geração onde entoou que “sem lenço, sem documento/Nada no bolso ou nas mãos/Eu quero seguir vivendo, amor/Eu vou” (Alegria, alegria).

 

         Essa modesta reflexão sobre o caminhar me foi motivada por uma palestra que assisti recentemente na qual o insigne e incansável economista, jornalista e turismólogo Eustáquio Palhares falou de seu projeto, junto com outros abnegados, que vem se mantendo por mais de 20 anos, denominado Os passos de Anchieta, santo católico espanhol conhecido como “Apóstolo do Brasil”.

 

         Trata-se de uma caminhada de 100 quilômetros. Saindo da Catedral de Vitória vai, ao longo de três dias, concluir na antiga vila de Rerigtiba (atualmente, município de Anchieta), no litoral sul capixaba, onde, em junho de 1597, o jesuíta morreu amparado pelos milhares de índios que cativou durante décadas de sua pregação religiosa. Foi por eles levado em cortejo até a capital do Estado.

 

         Intitulando-se andarilhos, os participantes buscam seguir, na medida do possível, considerando as mudanças urbanísticas ocorridas durante séculos, o trajeto original que Anchieta fazia beirando o mar esplendorosamente privilegiado e de cenários deslumbrantes. Por conta da rapidez com que caminhava, ele ficou conhecido entre os indígenas como Abara-Bebe ou Carai-Bebe (santo voador ou homem-voador).

 

         Sem enfoque estritamente religioso, pois aberto a todas as tribos, a ideia é garantir aos corajosos “a cada passo um encontro consigo mesmo”, a exemplo de outras rotas místicas como o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, a Via Sacra, em Jerusalém, e o roteiro romano.

 

         Pois bem. Na verdade, a nossa vida não é outra coisa senão um caminhar constante. Todos os nossos passos, mesmo que de forma inconsciente, conduzem ao destino inexorável do nosso reencontro, um dia, com o Pai Superior. O jeito de chegar até lá é que difere um pouco. Cada um tem suas escolhas, a partir do livre-arbítrio permitido por Deus aos humanos.

 

         Existe um provérbio, cuja origem se perdeu no tempo, que ensina: “"A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória". Assim, entre tantas procelas neste mundo de ilusão, “vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer/
Vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré).

 

         E caminhemos, física e espiritualmente, para frente e para o alto, sempre em direção à Luz Divina.

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