Caminhadas matutinas na beira-mar são
extremamente benéficas à saúde, dizem especialistas de todas as matizes e das
mais diversas especialidades terapêuticas.
Inexiste aquele que veja qualquer dano
ao bom hábito de esticar as canelas ao longo de alguns quilômetros, apreciando
a paisagem e inalando a brisa marinha cheia de puro e saudável oxigênio.
Porém, nem tudo é assim tão inofensivo
e ausente de perigo como quer fazer crer nossa vã filosofia. Alguma cautela é necessária,
principalmente no que diz respeito a olhares fortuitos para outros, ou outras,
caminhantes. Que o diga o sexagenário personagem dessa narrativa.
Vinha o incauto cidadão de mãos dadas
com sua cara-metade de mais de 40 anos de convivência quando, no sentido
contrário à sua direção, seu ângulo de visão desprovido de catarata foi
totalmente ocupado por uma jovem representante do sexo feminino, no auge do seu
esplendor natural, que desfilava toda aquela carga hormonal sem esconder que
queria mesmo era chamar a atenção.
A manceba trajava uma dessas roupas de
academia em que o delineamento do corpo não deixa margem à imaginação, pois
todas as protuberâncias e reentrâncias ficam perfeitamente definidas, cada
parte se destacando intensamente, praticamente como se não existisse nenhum
tecido cobrindo aquele corpo.
Atraído como um imã por aquela Vênus
quase desnuda, o idoso, esquecido de que não estava só, caiu em tentação e
escaneou por completo, do cabelo aos pés, aquele símbolo dos atuais tempos
despudorados. Nem tinha ainda concluído de registrar na memória a imagem
capturada, quando foi repreendido pelo alerta da sua própria esposa:
- Você estava olhando para aquela
mulher com olhar de sedução.
Rapidamente, para tentar amenizar o
estrago causado pelo flagrante, garantiu:
- Não, era um olhar de crítico de arte.
Um forte beliscão no braço lhe fez
entender que a explicação, a princípio soando tão espirituosa e pertinente, não
tinha sido aceita.
Ah, o calçadão! Todo cuidado é pouco.
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