As voltas que o mundo dá. Os testes a
enfrentar.
Filho idoso cuidando de mãe mais idosa
ainda, obviamente.
Sessentão versus nonagenária.
Parada dura, digna de um embate
olímpico.
E quando a vetusta senhora leva uma queda,
mexendo no que não devia mexer (igual criança), e sofre “fratura do ramo
superior do púbis à direita”, aquele ossinho triangular que
fica na extremidade inferior do baixo-ventre?
Manos, é osso, se me permitem o
trocadilho.
O negócio já começou complicado quando
um atendimento médico emergencial diagnosticou, de forma errada, que era uma
mera luxação muscular na coxa direita. Dois dias depois, sem sintomas de
melhoras, novo raio-x de melhor qualidade e consulta com um ortopedista
experiente, que diagnosticou a ruptura óssea.
No meio da parentada alvoroçada surgem
inúmeros especialistas: “Repouso absoluto”; “Trinta dias de cama”; “Nada de
esforço”; “Mastruz com leite é bom”; “Não pode ficar parada” e por aí vai.
Nesse interim, busca-se uma segunda
opinião profissional, que confirma a primeira. Receitada a medicação adequada e
estabelecidas diretrizes para atividades específicas com os membros inferiores,
objetivando evitar trombose e atrofiamento, orientadas por fisioterapeuta ou
educador físico.
E a madame? Até então ainda não tinha caído a ficha.
Exasperada, imagina que nada aconteceu. Recusa ficar quieta, insiste que lhe
devolvam a bengala (no primeiro teste, tenta se levantar sozinha e quase cai
novamente) e pretende que a vida siga normalmente num passe de mágica. Haja
paciência!
Difícil era alternar, conforme recomendado,
um período com ela sentada e outros horários na horizontal em uma cama. Gente
acostumada a mandar não aguenta receber ordens. Lavar a velhinha é outra
situação, até pelo risco de acidente. Tudo bem, tem uma cadeira de banho. Mas
chegar até lá, já que a porta estreita do banheiro não dá passagem à cadeira de
rodas, é uma peleja, que um observador desinteressado poderia considerar engraçada.
Mas é dito que Deus dá o frio de acordo
com o tamanho do cobertor. Então, nada a reclamar, pois estamos amparados por
plano de saúde e em condições de buscar o melhor atendimento possível,
inclusive agora com o apoio técnico de uma enfermeira qualificada e com autoridade para botar ordem na
casa. No mais, tudo vai virar motivo de brincadeiras, com o passar do tempo,
nosso imensurável professor.
Enquanto isso, clamemos por Jó,
personagem bíblico considerado exemplo de resiliência, de paciência e
capacidade de vencer obstáculos, pois provações são feitas para superação.
Assim seja.
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