Depois do adiamento do ano passado, por
conta da “gripezinha”, os Jogos Olímpicos de Tóquio (não sei por que denominam
uma cidade se as competições acontecem por toda a parte do Japão) estão em
plena efervescência. O fuso horário não favorece acompanhar as disputas, mas,
mesmo assim, considerando meu já conhecido interesse por esportes (mais ver do
que fazer), tenho passado solitárias madrugadas em frente à televisão.
Apesar de já ter falado em algumas
ocasiões que sou, a exemplo de Fernando Luna, “cidadão do mundo”, difícil não
torcer pelos atletas brasileiros nas diversas modalidades em disputa. Achei até
interessante (não o motivo, é claro) a Rússia competir com a bandeira do Comitê
Olímpico Russo. Parece mais próximo dos ideais que nortearam os primeiros jogos
da era moderna, em 1896, de povos irmanados e sem fronteiras. Sonhemos, sonhemos.
Hoje em dia, todos sabem, os Jogos
Olímpicos envolvem interesses outros, da geopolítica mundial. China e Estados
Unidos, os poderosos da atualidade, se engalfinham para ver quem é o
campeão geral. O Comitê Olímpico Internacional, por exemplo, adota o sistema de
considerar à frente o país com mais medalhas de ouro. Nossos irmãos do norte,
segundo critério do jornal New York Times, entendem que é preciso
considerar quem tem mais pódios, independentemente da cor do metal que o atleta
carrega no peito. No critério do COI, a China está à frente; na conta da imprensa
norte-americana, os EUA ganham. Ai, ai!
O Brasil, de mais de 200 milhões de habitantes,
poderia também ser uma potência olímpica. Poderia. Os mesmos problemas
estruturais, sociais e políticos que afetam outros setores da vida nacional
atingem também aqueles que se dedicam anos e anos na busca de uma medalha.
Muitos resultados positivos acontecem em face do esforço individual de uns
poucos que alcançam níveis de excelência entre milhares potencialmente capacitados,
mas sem apoio para brilharem. Esportes coletivos, com patrocínios melhores nos
clubes, tipo futebol e vôlei, têm mais sucesso.
O que vemos, então, é aqueles(as) solitários(as) gatos(as) pingados(as) que emergem do
meio da multidão colocados, pelos nossos entusiasmados locutores patriotas, no
panteão dos heróis nacionais. De uma hora para outra, quem fica até o terceiro
lugar tem a adesão de muitos e muitos seguidores às respectivas redes sociais, que passam a acompanhar suas
mensagens com avidez, como se fossem seres abençoados e suas postagens trouxessem
respostas para todas as nossas mazelas. Que época esquisita.
E vi uma
notícia, para minha surpresa, que diversos países, o Brasil, inclusive, pagam
polpudos prêmios àqueles que sobem ao pódio. Singapura, nesse quesito, é
medalha de ouro, pois concede a bagatela de R$ 3,8 milhões para cada campeão
nacional. Pindorama, sempre com generosidade quando se trata de esbanjar,
oferece 250 mil pelo primeiro lugar, à frente dos pobrezinhos Estados Unidos, Austrália, Japão e Canadá.
Tudo bem, atletas também precisam
comer, mas o Barão de Coubertin deve ter se remexido na tumba.
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