quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Olimpíadas

 

         Depois do adiamento do ano passado, por conta da “gripezinha”, os Jogos Olímpicos de Tóquio (não sei por que denominam uma cidade se as competições acontecem por toda a parte do Japão) estão em plena efervescência. O fuso horário não favorece acompanhar as disputas, mas, mesmo assim, considerando meu já conhecido interesse por esportes (mais ver do que fazer), tenho passado solitárias madrugadas em frente à televisão.

 

         Apesar de já ter falado em algumas ocasiões que sou, a exemplo de Fernando Luna, “cidadão do mundo”, difícil não torcer pelos atletas brasileiros nas diversas modalidades em disputa. Achei até interessante (não o motivo, é claro) a Rússia competir com a bandeira do Comitê Olímpico Russo. Parece mais próximo dos ideais que nortearam os primeiros jogos da era moderna, em 1896, de povos irmanados e sem fronteiras. Sonhemos, sonhemos.

 

         Hoje em dia, todos sabem, os Jogos Olímpicos envolvem interesses outros, da geopolítica mundial. China e Estados Unidos, os poderosos da atualidade, se engalfinham para ver quem é o campeão geral. O Comitê Olímpico Internacional, por exemplo, adota o sistema de considerar à frente o país com mais medalhas de ouro. Nossos irmãos do norte, segundo critério do jornal New York Times, entendem que é preciso considerar quem tem mais pódios, independentemente da cor do metal que o atleta carrega no peito. No critério do COI, a China está à frente; na conta da imprensa norte-americana, os EUA ganham. Ai, ai!

 

O Brasil, de mais de 200 milhões de habitantes, poderia também ser uma potência olímpica. Poderia. Os mesmos problemas estruturais, sociais e políticos que afetam outros setores da vida nacional atingem também aqueles que se dedicam anos e anos na busca de uma medalha. Muitos resultados positivos acontecem em face do esforço individual de uns poucos que alcançam níveis de excelência entre milhares potencialmente capacitados, mas sem apoio para brilharem. Esportes coletivos, com patrocínios melhores nos clubes, tipo futebol e vôlei, têm mais sucesso.

 

O que vemos, então, é aqueles(as) solitários(as) gatos(as) pingados(as) que emergem do meio da multidão colocados, pelos nossos entusiasmados locutores patriotas, no panteão dos heróis nacionais. De uma hora para outra, quem fica até o terceiro lugar tem a adesão de muitos e muitos seguidores às respectivas redes sociais, que passam a acompanhar suas mensagens com avidez, como se fossem seres abençoados e suas postagens trouxessem respostas para todas as nossas mazelas. Que época esquisita.

 

 E vi uma notícia, para minha surpresa, que diversos países, o Brasil, inclusive, pagam polpudos prêmios àqueles que sobem ao pódio. Singapura, nesse quesito, é medalha de ouro, pois concede a bagatela de R$ 3,8 milhões para cada campeão nacional. Pindorama, sempre com generosidade quando se trata de esbanjar, oferece 250 mil pelo primeiro lugar, à frente dos pobrezinhos Estados Unidos, Austrália, Japão e Canadá.

         Tudo bem, atletas também precisam comer, mas o Barão de Coubertin deve ter se remexido na tumba.

         Bom, apesar dos pesares, as Olimpíadas mexem. As imagens captadas são de incrível beleza plástica e algumas atitudes demonstram que o espírito olímpico, no estilo “o importante não é vencer, mas competir com dignidade”, permanece no ar. O skate foi incluído pela primeira vez nessa trigésima segunda edição, e suas atletas crianças/adolescentes chamam a atenção. Nós temos uma Fadinha de 13 anos, e o Japão tem Kokona Hikari, de 12 anos de idade, ambas medalhistas.

         Mas me saltou aos olhos um episódio acontecido com Misugu Okamoto, 15. A japonesa levou uma queda na sua apresentação, mas quando chegou ao local onde estavam as demais skatistas, foi abraçada e carregada pelas competidoras dos outros países. A confraternização dessas meninas é como estivessem brincando numa praça qualquer, sem preocupações em saber quem é a melhor. Gostei. Espero que os XXXII Jogos Olímpicos terminem nessa vibe.

         E que venha Paris/2024.

Nenhum comentário:

Postar um comentário