Não sei exatamente o motivo, mas existe
uma tendência mundial de considerar as coitadas das sogras aquelas pessoas que estão
na face da Terra somente para atazanarem a vida dos inocentes genros e noras,
causando transtornos e prejudicando a harmonia dos lares.
Sei que isso não é verdade, é claro,
inclusive nada posso reclamar da falecida mãe da minha mulher, apesar de
inicialmente ela não ter ido com minha cara, o que, acredito, seja natural.
Entretanto, existem acontecimentos que,
ao que me parece, permitem algumas conjecturas sobre a natureza desse convívio,
nem sempre fraterno, entre sogras, genros e noras.
À narração, pois.
Mera
coincidência?
Ainda não eram oito horas e o calor já
incomodava naquela manhã de quase verão.
Ao chegar na empresa, Macieira
cumprimentou os empregados e se trancou no escritório, de onde avistava o pátio
onde alguns carros já aguardavam para troca de óleo, alinhamento de direção,
balanceamento de rodas e serviços correlatos.
Chamou pelo motoboy e soube que ele
havia saído para entregar algumas peças. Ligou a central de ar e relaxou.
Aparentemente, tudo estava sob controle. Meia hora depois foi surpreendido pelo
toc-toc na porta (sem perceber, havia cochilado) e a secretária entrou com aquele
ar de que a notícia não era boa.
- O que aconteceu, Vera? – perguntou.
- Seu Macieira, o João atropelou uma
senhora.
Segurando a vontade de perguntar logo o
estado da motocicleta, quis saber:
- Como eles estão?
- Tudo bem. O João foi para casa e a
mulher saiu andando.
E a moto? – finalmente questionou.
- Quebrou um bocado de coisas.
Dispensou a funcionária e resolveu
ligar para o motoboy, numa, digamos, consideração de relação trabalhista.
O rapaz informou que estava bem, somente
com um pequeno arranhão no braço esquerdo. E que a vítima tinha se levantado e caminhado
com as próprias pernas, sem esperar socorro ou registro da ocorrência. Desligou.
Recebeu, então, uma chamada. Era ela, sua sogra.
- Bom dia, dona Joana, como está a
senhora?
- Eu estou ruim, Macieira. Fui
atropelado por um motoqueiro doido. Andei sozinha para o hospital, com dores, a perna
machucada e a cabeça tonta. Venha me buscar.
Sem querer acreditar no que ouvia,
prometeu ir buscá-la, desligou o celular e teclou o número do motoboy já com um
pressentimento ruim.
- João, você sabe o nome da mulher
atropelada?
- Sim, antes de ela ir embora eu
perguntei. É Joana.
- Rapaz, você atropelou a minha sogra.
Mais tarde, ao contar o caso à esposa,
notou nela aquele semblante de quem pensou: aí tem!
Entre os amigos não escapou dos
comentários de que tinha premeditado o acidente e quando, meses depois, demitiu
o indigitado auxiliar, a conversa era que foi por justa causa, porque ele tinha
sido incompetente ao atropelar a sogra e causar somente escoriações.
Vida dura essa das sogrinhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário