quarta-feira, 9 de junho de 2021

Sogras, genros e noras

 


         Não sei exatamente o motivo, mas existe uma tendência mundial de considerar as coitadas das sogras aquelas pessoas que estão na face da Terra somente para atazanarem a vida dos inocentes genros e noras, causando transtornos e prejudicando a harmonia dos lares.

 

         Sei que isso não é verdade, é claro, inclusive nada posso reclamar da falecida mãe da minha mulher, apesar de inicialmente ela não ter ido com minha cara, o que, acredito, seja natural.

 

         Entretanto, existem acontecimentos que, ao que me parece, permitem algumas conjecturas sobre a natureza desse convívio, nem sempre fraterno, entre sogras, genros e noras.

 

         À narração, pois.

 

Mera coincidência?

 

         Ainda não eram oito horas e o calor já incomodava naquela manhã de quase verão.

 

         Ao chegar na empresa, Macieira cumprimentou os empregados e se trancou no escritório, de onde avistava o pátio onde alguns carros já aguardavam para troca de óleo, alinhamento de direção, balanceamento de rodas e serviços correlatos.

 

         Chamou pelo motoboy e soube que ele havia saído para entregar algumas peças. Ligou a central de ar e relaxou. Aparentemente, tudo estava sob controle. Meia hora depois foi surpreendido pelo toc-toc na porta (sem perceber, havia cochilado) e a secretária entrou com aquele ar de que a notícia não era boa.

 

         - O que aconteceu, Vera? – perguntou.

 

         - Seu Macieira, o João atropelou uma senhora.

 

         Segurando a vontade de perguntar logo o estado da motocicleta, quis saber:

 

         - Como eles estão?

 

         - Tudo bem. O João foi para casa e a mulher saiu andando.

 

         E a moto? – finalmente questionou.

 

         - Quebrou um bocado de coisas.

 

         Dispensou a funcionária e resolveu ligar para o motoboy, numa, digamos, consideração de relação trabalhista.

 

         O rapaz informou que estava bem, somente com um pequeno arranhão no braço esquerdo. E que a vítima tinha se levantado e caminhado com as próprias pernas, sem esperar socorro ou registro da ocorrência. Desligou. Recebeu, então, uma chamada. Era ela, sua sogra.

 

         - Bom dia, dona Joana, como está a senhora?

 

         - Eu estou ruim, Macieira. Fui atropelado por um motoqueiro doido. Andei sozinha para o hospital, com dores, a perna machucada e a cabeça tonta. Venha me buscar.

 

         Sem querer acreditar no que ouvia, prometeu ir buscá-la, desligou o celular e teclou o número do motoboy já com um pressentimento ruim.

 

         - João, você sabe o nome da mulher atropelada?

 

         - Sim, antes de ela ir embora eu perguntei. É Joana.

 

         - Rapaz, você atropelou a minha sogra.

 

         Mais tarde, ao contar o caso à esposa, notou nela aquele semblante de quem pensou: aí tem!

 

         Entre os amigos não escapou dos comentários de que tinha premeditado o acidente e quando, meses depois, demitiu o indigitado auxiliar, a conversa era que foi por justa causa, porque ele tinha sido incompetente ao atropelar a sogra e causar somente escoriações.

 

         Vida dura essa das sogrinhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário