quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Vida que segue




          Vinha eu trotando numa manhã dessas pelo calçadão da orla central de Guarapari. Era cedo ainda.

          Quando consigo madrugar, vejo sempre na praça do antigo Radium Hotel um grupo de jovens mais antigos (para não dizer idosos ou terceira idade ou melhor idade) fazendo ginástica. Eles formam um círculo – são, calculei, umas 20 pessoas, entre homens e mulheres – em torno do instrutor e mandam ver em exercícios leves e ritmados.

          Segui em frente no meu trajeto até a praia das Virtudes e mais além. Na volta, pela primeira vez, coincidiu que ao passar novamente em frente ao Radium Hotel aqueles atletas bem dispostos estavam concluindo a jornada matinal de atividade física.

          Tinham se dado as mãos. Parei para ver. E escutar. Contritos, rezavam o Pai Nosso, a belíssima oração que Jesus ensinou a seus discípulos no Sermão da Montanha. Em seguida, entoaram a Ave Maria. Na conclusão, cantaram o Hino de Guarapari (“Quer viver o sonho lindo/Que eu vivi/Vá viver a maravilha/De Guarapari...”). Em seguida, aplaudiram a eles mesmos.

          Enfim, fiquei imaginando. Na realidade, mesmo, todo mundo só quer ser feliz. E a felicidade está nessas coisas simples e diárias, em que as pessoas se encontram, fazem algo juntas, se divertem, têm um momento de religiosidade e vão em busca de seus afazeres (mesmo que não tenham nada para fazer) até o outro dia, quando voltarão e repetirão tudo novamente.

           Muitos se sentem presos na rotina, como se fosse um cárcere do qual precisam se livrar a todo custo. Me parece um engano. A natureza, sempre ensinando, está repleta de atividades rotineiras, a começar pelo Sol, que cumpre seu trajeto celestial da mesma maneira, sem falhar nenhuma vez, por milhares de anos.

          As marés vão e voltam num ritmo constante e ininterrupto. As estações (verão, outono, inverno, primavera) se repetem ano após ano. Os pássaros cantam com as primeiras luzes do dia, e buscam abrigo no anoitecer. Mangueiras sempre dão mangas, e quem plantou laranja não pode colher limão.

          Assim o tempo flui inexoravelmente, queiramos ou não. Sejamos sensatos o suficiente para aceitarmos essa realidade. O Universo segue seu fluxo de forma inabalável, e que cabe a nós entender seu ritmo e compreender seus sinais.

          A fila anda, e vida que segue!

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