segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Pios

 

 

Passeando por uma Cachoeiro de Itapemirim, a “capital secreta do mundo” (conforme garantem os locais), num final de semana incrivelmente ventilado e de temperatura razoavelmente amena, fui levado por calorosos amigos para conhecer a Fábrica de Pios Maurílio Coelho, que fica na ilha da Luz, bem próxima do centro da cidade.

 

Fundada em 1903, é a única na América Latina especializada na fabricação de pios de aves, que em décadas passadas eram utilizados exclusivamente para a caça. Atualmente fazem parte de coleções no mundo todo e são usados ainda por fotógrafos, biólogos e outros estudiosos para observações de espécies nativas em seu ambiente natural. São mais de 40 tipos de apitos disponíveis, que, com precisão incrível, imitam com fidelidade os cantos mais variados.

 

Em pequenos tornos o trabalho permanece nos dias de hoje de maneira artesanal, com a antiga tradição passando de geração em geração. Os bisnetos do idealizador da fábrica (Maurílio gostava de caçar, e queria substituir os precários pios de bambu até então existentes por outros, de madeira, que reproduzissem os sons de forma mais próxima da realidade) mantêm, nas mesmas instalações, a continuidade dessa história familiar, hoje com um enfoque ecológico – a matéria-prima, por exemplo, são peças reutilizadas.

 

Gustavo e Fábio, herdeiros e continuadores dessa arte quase única, fizeram uma apresentação. Impressionante a capacidade da memória deles, demonstrando os mais diversos tons e motivos de cantos que os pássaros utilizam, desde os menores e até os maiores, da Mata Atlântica à Floresta Amazônica, inclusive insetos, pois imitaram uma cigarra de uma forma beirando a perfeição.

 

Não estou aqui a fazer propaganda, pois eles não precisam disso, já que têm uma clientela fiel e que se renova continuamente (grandes empresas, por exemplo, compram caixas com diversos tipos de pios para presentear os clientes ao final de cada ano). Quero tão somente fazer esse pequeno registro de um trabalho que hoje pode ser, a meu ver, considerado artístico e que acontece aqui no Espírito Santo com repercussão internacional.

 

A final, um dos integrantes da nossa turma pediu que fosse feito o pio de um urubu. Sem titubear, imediatamente a dupla utilizou um pequeno instrumento metálico (que serve para chamar diversos tipos de pássaros diferentes) e tocou o hino do Flamengo.

 

Aguentei calado, para não passar recibo.

2 comentários:

  1. Ohhh meu grande Mestre Rodrigo. Confesso que como uns dos herdeiros dessa tradição que, de fato, tanto nos orgulha, bem assim a todos a capixabas que a conhecem, fiquei um tanto emocionado com suas palavras enriquecedoras desse nosso ofício tão valoroso para nossa família. Externo-lhe, em nome de todos os Coelhos (da toca do nosso ancestral Maurílio Coelho) o mais sincero voto de gratidão e de estoma e consideração pela sua pessoa e de vossa família. Deus sempre o abençoe.

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  2. Gostei! 😃👏🏻👏🏻👏🏻

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