De
Porto Velho recebo a triste notícia de que o Sampaio faleceu. Estava na sua
querida Vila Calderita, às margens do rio Jamari, onde tinha uma propriedade.
Passou mal, foi trazido às pressas para um hospital urbano (cerca de 40 quilômetros),
mas chegou na cidade já sem vida. Infarto.
Fomos,
por mais de 20 anos, colegas de trabalho na Justiça Federal em Rondônia. Morávamos,
inclusive, no mesmo bairro, o Conjunto Marechal Rondon; ele, na rua do Ouro, eu,
na rua do Mercúrio. Lá no serviço almoçávamos praticamente todos os dias
juntos, mais o Campana, a quem chamava de “papai”, apesar de ser o mais novo de
nós quatro, e o Thales.
Pescador
afamado, matinha o freezer sempre abastecido de peixes que ele mesmo gostava de
preparar. Muito querido por todos, com ele não tinha tempo ruim, pois tirava
brincadeira com tudo. Se alguém telefonasse para o ramal dele e fosse conhecido,
quando se identificasse na certa ouviria: “Grande coisa”.
Cumprimentava
os aniversariantes, perguntava a idade e sapecava: “Está acabado, hein”, mas
tudo sem maldade, só pelo prazer de dar umas risadas. Quando o apresentei à
minha mãe, não deixou barato: “Vai entrar para o Guinness Book. É o primeiro
caso da mãe mais nova do que o filho”.
Nasceu
no Ceará, viveu no Rio de Janeiro e se radicou no norte. Com um enorme bigode
(que com o tempo ficou totalmente cheio de cabelos brancos), parecia aquela
personagem, o Leôncio, do desenho animado do Pica-Pau. Quando voltava das
pescarias, vermelho do sol amazônico, sempre aparecia um para chamá-lo de
camarão e ouvir a tradicional resposta: “É a mãe”.
Se
algum colega chegava na Secretaria da Vara e pedia para falar com o magistrado,
ao passar por sua mesa ouvia: “Vá lá, meu amigo, meta o pé na porta e diga que
fui eu”. Tinha também outros bordões, nem sempre de sua autoria, mas que usava
com maestria. Tipo: “Menino bom, dormindo”; “Acerta outro, que estou baleado”; “Olha
ela aí”; “Soninho do nanando”.
Torcia
para o tricolor carioca. Quando ia ter um Fla-Flu, anunciava: “É taca lá e taca
cá”. E quando não gostava de uma música, sentenciava: “É melhor ouvir isso do
que ser surdo”. Curtia uma cerveja. Se perguntassem qual a sua marca preferida,
dizia: “A gelada”.
Tornou-se
“prefeito” informal da Vila Calderita, lutando sempre por melhorias. Todo final
de ano levava presentes para a criançada do lugar. No dia do velório já tinha
sido programada anteriormente uma festa popular, mas ninguém foi, porque todos
estavam prestando sua última homenagem ao Sampaio. Resultado: os músicos, já
pagos, foram para o velório.
Chegaram
e pediram licença à ex-mulher e à filha para participarem. Fizeram uma oração e
o forró começou. A alegria contagiou todos até de madrugada. A cara do Sampaio.
Do jeito que ele gostaria.
Até
um dia, Velho do Rio.