quarta-feira, 31 de julho de 2024

Culinária

Dias desses, aqui em casa, por absoluta preguiça de fazer qualquer coisa, num domingo nublado e frio, o almoço foi arroz com ovo frito. Quando espetei o garfo e a gema escorreu pelo prato me veio à lembrança o quanto que eu gostava de me alimentar assim na infância.

Era praticamente uma diversão misturar a gema amarela com o branco do arroz, e saborear o que para mim era uma verdadeira iguaria. Sempre fui fã de um ovo frito ou cozido, este com bastante sal. Quando garoto nem sabia nada sobre colesterol e outros malefícios atribuídos ao ovo, o que foi até bom, porque atualmente o alimento está liberado para se comer à vontade, até onde eu sei.

De vilão a herói, o ovo é apontado agora por algumas correntes de nutrólogos como o segundo alimento mais completo, estando atrás tão somente do leite materno. Possui vitaminas, sais minerais, ácidos graxos e proteínas, tendo também ação antioxidante, auxiliando a retardar o envelhecimento celular precoce.

Comecei a pensar nesses “gatilhos” que disparam lembranças de vivências passadas, coisas que ficam escondidas na memória e vêm à tona quando a gente menos espera. Um cheiro, uma paisagem, um encontro e daquele cantinho da nossa mente, de uma gavetinha esquecida num canto qualquer do cérebro, aflora aquela sensação do déjà vu.

Geralmente são momentos bons, porque não se sente saudade de coisas desagradáveis, mas tão somente daquilo que nos encantou ou alegrou. Nesse campo da, digamos, culinária, forcei a memória e lembrei também do pão cheio de manteiga e molhado no café, do pão molhado no caldo que ficava da fritura do bife e do macarrão que minha avó materna fazia em casa e comíamos todos os domingos.

Relembrei ainda a minha saudosa tia Marlene me ensinando que pizza (eu dizia que não gostava) era massa de pão com queijo e tomate. Meu volume abdominal atual é uma prova do quanto que fiquei fã dessa tradicional massa italiana (qualquer dia vou escrever sobre a sexta-feira da pizza na casa dos meus pais).

Nos tempos do fast food dá água na boca recordar de uma velha e boa comidinha caseira.

Servidos?

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Chico

 


Leio e vejo nas mídias eletrônicas que o cantor, compositor, dramaturgo e escritor Chico Buarque, nascido Francisco Buarque de Hollanda em 19 de junho de 1944, alcançou a idade de 80 anos, se juntando, assim, a outros artistas octogenários, tais como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Gilberto Gil.

 

Ao longo de sua vitoriosa carreira, emplacou inúmero sucessos desde A Banda, vencedora, em 1966, do Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record, na interpretação da cantora capixaba Nara Leão. Crítico do governo militar, esteve autoexilado na Itália. Naquele período, muitas de suas canções foram censuradas.

 

Tive a oportunidade de assistir a um show dele em Vitória (não me lembro o local) em meados dos anos 1970, quando esteve no Espírito Santo acompanhado do conjunto vocal MPB-4. Após o espetáculo, na condição de repórter do jornal A Gazeta, fui com uma galera a um jantar num restaurante nos altos de um prédio na avenida Jerônimo Monteiro. Mas eu era apenas um novato na carreira jornalística, e fiquei apenas olhando e ouvindo a turma antiga beber e conversar com o famoso músico.

 

Mas meu contato maior com a discografia de Chico Buarque se deu na casa de minha mãe, pois ela era fã incondicional do cantor (e também dos seus olhos verdes, apesar de meu pai ter lindos olhos azuis). Ouvia regularmente muitas músicas dele, e não se importava com a grande distância ideológica que os separava. Comprava todos os discos (vinil), e posteriormente os CDs. E sabia muitas canções de cor e salteado.

 

Falando isso aqui não só como um reconhecimento à importância de Chico no cenário artístico e cultural brasileiro, mas também fazendo uma reflexão de que é possível conviver com as diferenças. No exemplo da minha mãe: ela adorava as músicas do Chico, mas repudiava o apoio declarado ao atual presidente Lula, que não queria ver pintado nem de ouro.

 

O artista, a obra e o seu entendimento político muitas vezes caminham juntos, e nem sempre é possível separá-los, mas mesmo que a gente não concorde com algum alinhamento (seja à direita ou à esquerda), não me parece razoável negar a beleza de um poema, de uma letra de canção ou de uma melodia, que traz encantamento e acalma os sentidos só porque fulano ou beltrano têm uma compreensão de mundo diferente da nossa.

 

Sou otimista (ou ingênuo) e acredito que chegaremos lá na frente (muito?) a superar todas essas barreiras ideológicas e racionais colocadas pelo ser humano, para que o sentimento fraterno de respeito mútuo possa prevalecer. E até mesmo chegarmos à compreensão de que podemos nos unir em um pensamento e um coração, pois, afinal, somos filhos de um só Pai Verdadeiro, que é Deus.

 

Quem viver, verá.