quinta-feira, 9 de maio de 2024

Mazelas

 


Enquanto o Rio Grande do Sul desmorona diante de uma tragédia hídrica jamais vista naquelas paragens, causando sofrimento e danos a milhares de gaúchos, sem contar as centenas de pessoas mortas e/ou desaparecidas, a mídia divulga que, no ano passado, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional reservou 67% dos recursos destinados à prevenção de enchentes (R$ 78,4 milhões empenhados no total) à Prefeitura de Maceió para um projeto de contenção de encostas.

O noticiário faz ilação com o fato de a capital alagoana ser a terra natal do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e questiona o motivo de R$ 52,7 milhões terem sido separados para um reduto eleitoral daquele apontado como eminência parda da República. O texto ainda informa que a assessoria do prefeito atestou que o dinheiro não foi disponibilizado, pois tudo depende da entrega dos projetos para posterior licitação, contratação e execução.

Quero crer que exista verdadeiramente essa necessidade de atender ao povo potiguar, mas me causa espanto o fato de verbas de um orçamento nacional, oriundas dos impostos que eu, você, nós pagamos, estejam à disposição de uma única pessoa, que possa decidir sobre a sua aplicação da maneira que quiser. Talvez fosse mais sensata uma distribuição proporcional a todos os entes federativos, onde critérios técnicos superem os acordos políticos de momento. Me parece mais justo.

E já que estamos falando de orçamento público e de justiça, outra notícia um tanto surpreendente veio do Estado de Rondônia, minha terra do coração. Circulou a informação de que algumas dezenas de ilustres magistrados do Tribunal de Justiça rondoniense fizeram jus, no mês de fevereiro passado, a um robusto contracheque de algo em torno de 1 milhão de reais líquidos. Tudo amparado por normas, resoluções e procedimentos administrativos os mais escorreitos, apesar do limite constitucional de que, no serviço público, a maior remuneração não pode ultrapassar a de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Gente, me perdoe aborrecê-los com essa crônica, mas o Brasil é, realmente, um país surpreendente. Quando se pensa que já se viu tudo, a história se repete, pois esse tipo de situação não está acontecendo pela primeira vez. Aqui e acolá algo vem à tona, mas o que se faz por debaixo dos panos é muito maior, imagino, do que esses acontecimentos que escapam do sigilo dos bastidores, dos gabinetes e dos conchavos. Até quando, me pergunto, haverá dinheiro público suficiente para atender a tantos desmandos?

Dizem que o Brasil tem um povo cordial, mas o país não pode continuar deixando sumir ralo abaixo tanto dinheiro assim, como se fosse uma empresa qualquer que estivesse distribuindo dividendos aos seus maiores acionistas, a elite. A paciência tem limites, diz o dito popular, e temo que, um dia, alguém consiga convencer a população, e já tentaram isso recentemente, que é melhor quebrar tudo e começar do zero do que ficar calado carregando nas costas os insensíveis aproveitadores que só pensam em si mesmo e esbanjam gastando com óleo de peroba para lustrarem a imensa cara de pau defendendo o indefensável.

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