Enquanto
o Rio Grande do Sul desmorona diante de uma tragédia hídrica jamais vista
naquelas paragens, causando sofrimento e danos a milhares de gaúchos, sem
contar as centenas de pessoas mortas e/ou desaparecidas, a mídia divulga que,
no ano passado, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional reservou
67% dos recursos destinados à prevenção de enchentes (R$ 78,4 milhões
empenhados no total) à Prefeitura de Maceió para um projeto de contenção de
encostas.
O
noticiário faz ilação com o fato de a capital alagoana ser a terra natal do
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e questiona o motivo de R$
52,7 milhões terem sido separados para um reduto eleitoral daquele apontado
como eminência parda da República. O texto ainda informa que a assessoria do
prefeito atestou que o dinheiro não foi disponibilizado, pois tudo depende da
entrega dos projetos para posterior licitação, contratação e execução.
Quero
crer que exista verdadeiramente essa necessidade de atender ao povo potiguar,
mas me causa espanto o fato de verbas de um orçamento nacional, oriundas dos
impostos que eu, você, nós pagamos, estejam à disposição de uma única pessoa,
que possa decidir sobre a sua aplicação da maneira que quiser. Talvez fosse
mais sensata uma distribuição proporcional a todos os entes federativos, onde
critérios técnicos superem os acordos políticos de momento. Me parece mais
justo.
E
já que estamos falando de orçamento público e de justiça, outra notícia um
tanto surpreendente veio do Estado de Rondônia, minha terra do coração.
Circulou a informação de que algumas dezenas de ilustres magistrados do
Tribunal de Justiça rondoniense fizeram jus, no mês de fevereiro passado, a um
robusto contracheque de algo em torno de 1 milhão de reais líquidos. Tudo
amparado por normas, resoluções e procedimentos administrativos os mais
escorreitos, apesar do limite constitucional de que, no serviço público, a
maior remuneração não pode ultrapassar a de um ministro do Supremo Tribunal
Federal.
Gente,
me perdoe aborrecê-los com essa crônica, mas o Brasil é, realmente, um país
surpreendente. Quando se pensa que já se viu tudo, a história se repete, pois
esse tipo de situação não está acontecendo pela primeira vez. Aqui e acolá algo
vem à tona, mas o que se faz por debaixo dos panos é muito maior, imagino, do
que esses acontecimentos que escapam do sigilo dos bastidores, dos gabinetes e
dos conchavos. Até quando, me pergunto, haverá dinheiro público suficiente para
atender a tantos desmandos?
Dizem
que o Brasil tem um povo cordial, mas o país não pode continuar deixando sumir
ralo abaixo tanto dinheiro assim, como se fosse uma empresa qualquer que
estivesse distribuindo dividendos aos seus maiores acionistas, a elite. A
paciência tem limites, diz o dito popular, e temo que, um dia, alguém consiga
convencer a população, e já tentaram isso recentemente, que é melhor quebrar
tudo e começar do zero do que ficar calado carregando nas costas os insensíveis
aproveitadores que só pensam em si mesmo e esbanjam gastando com óleo de peroba
para lustrarem a imensa cara de pau defendendo o indefensável.
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