Um
amigo de longas e antigas jornadas esses dias chorou as pitangas comigo reclamando
da vida, particularmente da situação financeira apertada, quase no ponto de ter
que vender o almoço para comprar o jantar. Não é fácil, principalmente para uma
pessoa que já fez a curva no Cabo da Boa Esperança.
Queixou-se
ainda o cidadão que nem seus cabelos brancos estão mais sendo respeitados, pois
no emprego (sim, o reclamante permanece na labuta, pois a aposentadoria
causaria mais desconforto monetário. Coisas do Brasil) perdeu uma gratificação que
recebia por mais de 20 anos para uma colega com menos de dois meses de casa,
sob a alegação de uma suposta “meritocracia”.
Coincidência
ou não, explicou-me, numa equipe com aproximadamente 15 integrantes fixos,
somente os dois mais antigos, para não dizer velhos, estão atualmente sem
nenhum tipo de remuneração extra. É certo que nosso personagem poderia ter lido
com mais atenção a fábula “A Cigarra e a Formiga”, de Esopo, e se preparado com
elevada prudência para os dias de inverno, ou seja, do ocaso da vida.
Entretanto,
há de se convir que ao usar tão somente a dita meritocracia como sistema de
gestão, considerando-a como o melhor mecanismo de avaliação profissional, o
detentor do poder incorre em uma possibilidade de erro que assume grandes
proporções. Sem nenhum critério objetivo, o chefe escolhe, a seu bel-prazer,
quem alcançou ou não a pontuação por ele mesmo estabelecida.
Segundo
o IBGE (dados de 2019), mais de 7,5 milhões de idosos permanecem ativos no
mercado de trabalho, mas o desemprego na faixa etária entre 60 e 69 anos de
idade aumentou, no mesmo período, passando a 40,3% em 2018, contra 18,5%
anotados em 2013. Nossos vovós e vovôs querem continuar contribuindo, porém a
cultura de que velho não serve para nada parece muito entranhada nesse mundo
corporativo e tecnológico.
Pediu-me
o sofrido camarada um conselho, e também envolto nas minhas próprias
preocupações nada pude dizer além de um velho clichê, que tem força e funciona
para quem acredita: Vai na fé, que Deus proverá!
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