quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Meritocracia

 


 

Um amigo de longas e antigas jornadas esses dias chorou as pitangas comigo reclamando da vida, particularmente da situação financeira apertada, quase no ponto de ter que vender o almoço para comprar o jantar. Não é fácil, principalmente para uma pessoa que já fez a curva no Cabo da Boa Esperança.

 

Queixou-se ainda o cidadão que nem seus cabelos brancos estão mais sendo respeitados, pois no emprego (sim, o reclamante permanece na labuta, pois a aposentadoria causaria mais desconforto monetário. Coisas do Brasil) perdeu uma gratificação que recebia por mais de 20 anos para uma colega com menos de dois meses de casa, sob a alegação de uma suposta “meritocracia”.

 

Coincidência ou não, explicou-me, numa equipe com aproximadamente 15 integrantes fixos, somente os dois mais antigos, para não dizer velhos, estão atualmente sem nenhum tipo de remuneração extra. É certo que nosso personagem poderia ter lido com mais atenção a fábula “A Cigarra e a Formiga”, de Esopo, e se preparado com elevada prudência para os dias de inverno, ou seja, do ocaso da vida.

 

Entretanto, há de se convir que ao usar tão somente a dita meritocracia como sistema de gestão, considerando-a como o melhor mecanismo de avaliação profissional, o detentor do poder incorre em uma possibilidade de erro que assume grandes proporções. Sem nenhum critério objetivo, o chefe escolhe, a seu bel-prazer, quem alcançou ou não a pontuação por ele mesmo estabelecida.

 

Segundo o IBGE (dados de 2019), mais de 7,5 milhões de idosos permanecem ativos no mercado de trabalho, mas o desemprego na faixa etária entre 60 e 69 anos de idade aumentou, no mesmo período, passando a 40,3% em 2018, contra 18,5% anotados em 2013. Nossos vovós e vovôs querem continuar contribuindo, porém a cultura de que velho não serve para nada parece muito entranhada nesse mundo corporativo e tecnológico.

 

Pediu-me o sofrido camarada um conselho, e também envolto nas minhas próprias preocupações nada pude dizer além de um velho clichê, que tem força e funciona para quem acredita: Vai na fé, que Deus proverá!

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