Madame
estava simplesmente abismada. Tremia de tanta raiva. Não conseguia entender
como aquela situação inusitada poderia acontecer justamente com ela, logo ela,
tão ciosa e cumpridora de seus deveres. Será que aquelas pessoas não entendiam
sua posição de vítima? Jamais tinha passado por momento de tanta humilhação.
Convidada
de honra para o casamento da filha de uma querida amiga, procurou, como de
costume, se organizar com meses de antecedência. Através da empresa Hurb, que
era considerada top no turismo brasileiro, fez a reserva de quarto num hotel da
cidade onde a cerimônia seria realizada, pagou os valores indicados e ficou
tranquila, passando a cuidar de outros detalhes, tais como roupas e demais
apetrechos necessários à ocasião.
Ao
chegar, fez o check-in e foi admitida sem maiores problemas. Cansada da longa
viagem de avião foi dormir. A noite de sono agradável se transformou numa manhã
de pesadelo, quando foi acordada abruptamente por uma funcionária do estabelecimento
dizendo que deveria sair do quarto imediatamente. A Hurb descumpriu o acordo
comercial e a diária não tinha sido quitada conforme previsto.
Sem
poder raciocinar direito ante a pressão da atendente, juntou seus pertences
(como era uma ocasião especial tinha levado umas duas ou três malas a mais do
que o costume) e saiu. Nem teve tempo de pentear os cabelos, muito menos tomar
um mísero cafezinho. Na porta do quarto, sem a menor cerimônia, a funcionária
imediatamente trocou a senha de acesso.
Foi
para a recepção do hotel procurar entender a situação vexatória. Soube, então,
que para continuar sendo atendida teria que pagar novamente as diárias que já
havia quitado, pois a hospedagem estava suspensa por conta do calote da agência
que havia intermediado a negociação. Subiu nas tamancas, esperneou o tanto que
pode, rodou a baiana, mas a infeliz recepcionista nada podia fazer. Eram ordens
do patrão.
Para
garantir seus direitos, gravou toda a conversa. Depois de longos minutos de
debates inconclusivos, resolveu pagar o que estava sendo cobrado e buscar na
via judicial o ressarcimento do prejuízo. Juntou as malas, chamou um conhecido
para lhe dar uma carona e foi em busca de outro local onde ficar.
No
caminho, seu estado de tensão era visível e o amigo procurou ajudá-la,
incentivando que desabafasse, botasse para fora aquela indignação, não deixasse
que aquele desconforto atrapalhasse seu final de semana. “Grite”, disse ele. “Fale
um palavrão”, o que não era seu costume, tal o seu recato.
Sentindo
um vórtice de energia em movimento dentro de si, subindo do plexo solar em
direção ao coração, que batia acelerado, se encheu de coragem e exclamou a
plenos pulmões: “PUTA QUE PARIU!”
O
alívio foi tanto que parecia flutuar. Entrou no novo hotel com a cabeça
erguida, apesar do penteado ainda desalinhado, mas nada que uma boa escovada
não desse jeito. A paz voltou, mas aqueles filhos da mãe, pensou, não perdem
por esperar. No mínimo, uns 10 mil reais de indenização por aquele sofrimento.
Afinal, precisa se dar ao respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário