Tem gente que possui a incrível capacidade de alegrar o ambiente em que estiver, conseguindo aproveitar qualquer situação e fazer um comentário engraçado, aquela observação inusitada que transforma um momento comum numa gargalhada generalizada.
Conheço alguns camaradas com essa memória privilegiada, de em questão de segundos buscar uma frase totalmente inesperada e surpreendente. Mesmo os dramas mais duros da vida, acabam sendo motivo para fazer da dor um motivo de alegria.
Recentemente, por exemplo, para minha surpresa, recebi um telefonema no número de um amigo falecido. Me espantei, é claro, mas resolvi atender. Vá que fosse uma mensagem do além. Era o filho dele, cujo celular deu problema e, então, resolveu usar o que pertencia ao pai. Reclamei, pedindo que não me assustasse daquele jeito.
Minutos depois, chega um áudio, oriundo do mesmo número: “Rodrigão, hoje à noite vou puxar o teu pé”. Era meu amigo, mais uma vez, que percebendo o potencial avassalador da presepada mandou mensagens similares para diversas outras pessoas, inclusive para um amigo em comum, recém saído da UTI: “Não tenha medo. Estou segurando a tua mão”.
Outro sem noção aprontou no mesmo estilo com a família dele, ainda se recuperando do trauma de uma perda, ao ficar com o celular de um primo que havia morrido repentinamente. Num almoço de domingo, mandou uma mensagem para um tio, sabidamente facilmente impressionável com essas coisas do além-mundo: “Eu estou aqui”.
Com a tensão presente no ar, deixou pronta uma segunda mensagem, na expectativa do momento propício para remetê-la. Eis que um descuidado deixou cair um copo, e antes que o som do barulho do vidro quebrando ao bater no chão tivesse se dissipado no ar, clicou rapidamente no celular do primo e enviou: “Eu não disse que estou aqui”. O tio, destinatário das “conversas espíritas”, não aguentou a pressão, disse que precisava sair e foi para casa, sem querer crer, mas, sabe como é, com essas coisas não se deve brincar.
Xô assombração. Credo em cruz. Desconjuro.