quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Leituras 2025

 

Depois de um período nada sabático em que passei mais tempo assistindo televisão, basicamente séries e esportes (o Super Bowl vem aí), do que qualquer outra coisa, resolvi voltar ao bom e velho hábito da leitura, que havia deixado de lado por pura preguiça, desencantado com algumas coisas da vida e do mundo, e comigo mesmo, ainda me acostumando com uma aposentadoria precoce.

 

Meu saudoso pai, Renato Pacheco, não nos deixava faltar nada para ler, nem que fosse uma revistinha do Pato Donald ou do Tio Patinhas, sucesso com a criançada em décadas passadas. Mais à frente, além de romances e biografias, meus preferidos, comprava nas bancas Placar e Veja (lia inclusive os anúncios), até que fiz assinatura de ambas. Por necessidade profissional não deixava escapar nenhum jornal que me caísse nas mãos. 

 

Costumo ler mais de um livro por vez, um pouquinho de cada um, geralmente deitado na cama, depois do almoço e à noite, antes de dormir.

 

Encontrei na minha estante, e estou relendo-o, um clássico dos estudantes de Direito, que é A cidade antiga, de Fustel de Coulanges, na edição de 1998 da Martins Fontes. O autor é um renomado historiador francês, dos anos 1880, que traça, de forma bem detalhada, mas sem erudição exagerada, observando, porém, o rigor científico necessário, dos primórdios das cidades, suas instituições jurídicas, familiares, políticas e religiosas. Recomendo.

 

Junto com o livro 20 anos sem Renato Pacheco, editado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, ganhei também Espírito Santo – histórias, de João Eurípedes Franklin Leal, os números 80 e 81 da revista do IHGES e Breve notas quase-literárias, de Getúlio Marcos Pereira Neves, este uma agradável surpresa, pela leitura fácil e relatos interessantes sobre a cultura e aqueles que a fazem em terras capixabas, sem contar as inúmeras boas referências ao autor de A oferta e o altar.

 

E completando minha atual lista de leituras, para não parecer que estou muito esnobe, tirei a poeira de A porta de bronze e outros contos, de Raymond Chandler (edição da Editora Record de 2009). Seu famoso detetive Philip Marlowe, entre uma bebida e um cigarro, resolve sequestros e assassinatos na Los Angeles da época da Grande Depressão. Ao lado de Dashiell Hammett, Chandler compõe o panteão dos mais afamados escritores do romance policial americano, a dita literatura noir. Muito bom para uma leitura sem compromisso.

 

Aguarda a vez na mesinha de cabeceira a coleção completa de O tempo e o vento, do gaúcho Erico Veríssimo. São sete volumes – O Continente, O Retrato e O Arquipélago – numa caixa editada primorosamente pela Companhia das Letras.

 

Até o Carnaval já tenho com o que me divertir.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Saudades

 

Premido pelas circunstâncias da vida meu neto mais novo, Benício, que no próximo mês de abril comemorará seus primeiros dois anos, está morando aqui em casa, acompanhado pela mãe.

 

Pense num menino opinioso. Se bobear, ele quer mandar em todo mundo. Ao mesmo tempo é muito carinhoso, alegre e com a bateria sempre carregada. Correr atrás dele não é brincadeira, ainda mais nessa minha fase quase septuagenária. E tem a carinha mais sapeca do mundo - não reparem, mas todo avô que se preza é essencialmente um babão.

 

Aproveitando o recesso da creche, minha querida criança foi passar uns dias na casa do pai. E deixou uma imensa saudade. Hoje cedo não ouvi a sua voz poderosa me chamando ao pé da minha cama, conforme faz parte da rotina diária a qual já me acostumei.

 

Mas tudo tem pelo menos dois lados, e a vantagem desse momento é que ao sentir saudade estou me lembrando de alguém a quem amo incondicionalmente. Afinal, a gente só se recorda de coisas boas, viagens agradáveis, amigos queridos. Ninguém gosta de ficar pensando em ocasiões desagradáveis. E estou na expectativa de quando ele voltar, tipo a Raposa e o Pequeno Príncipe, pois fui cativado pela semente do amor.

 

Que chegue logo segunda-feira!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

A pedido (*)

 

Num lugar muito, muito distante, e muito antigo também, cuja localização havia se perdido ao longo dos séculos, cercado por montanhas inacessíveis e banhado por rios de águas cristalinas, com verdes gramados onde o vento soprava mansamente entre árvores de todas as espécies, grande e pequenas, e flores de raras belezas, vivia um pequeno e solitário unicórnio. O nome dele era Único.

 

Único assim se chamava porque ali não havia nenhum outro animal parecido com ele. Unicórnio, todos sabem, tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um chifre em espiral no centro da cabeça e uma pequena barbicha parecida com a de bode. Único, porém, quando jovem, era prateado, e sua pele brilhava quando tocada pela luz do Sol. Ele corria livre por aqueles campos, em convivência pacífica com demais seres que ali habitavam.

 

À medida que foi crescendo, e ficando com o pelo de uma alvura inigualável, Único começou a perceber que todos os outros bichinhos da floresta viviam em pares: os passarinhos, os pequenos esquilos, os grandes ursos e até mesmo os peixes tinham outros iguais, formando casais e se reproduzindo quando a natureza assim determinava. Mas ele estava só, e não entendia o motivo.

 

Único gostava todos os dias de subir uma pequena colina para contemplar o nascente, pois a energia solar era muito importante para ele, lhe dava força e resistência. Numa manhã de esplêndida beleza, enquanto se nutria daquela luminosidade divina, notou que os raios do Sol formavam um tipo de trilha e daquele caminho etéreo vinha descendo um ser igual a ele, mas menor um pouco e com feições mais suave, como se fosse, e era, uma unicórnio.

 

Extasiado diante do que estava acontecendo, Único sentiu uma alegria incomparável e recebeu com muitas demonstrações de carinho a sua parceira, que se chamava Aurora, passando a conviver com ela para todo o sempre naquele mundo mitológico. Desde então, mudou seu nome para Amor. E foram felizes no infinito e além.

 

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(*) Minha neta Kiara Mariah, que está começando a dar os primeiros passos no mundo da leitura, viu a pequena brochura intitulada Uma aventura (quase) galáctica que escrevi para Alice, a Primeira, minha neta mais velha, e me pediu um texto sobre o bichinho preferido dela, que é o unicórnio. Daí esse pequeno exercício literário fantasioso.

 

 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2025


Num dia típico de verão – mormaço, um pouco de chuva, um pouco de sol – 2025 deu as caras. Ainda não disse a que veio, e nem sei se prometeu alguma novidade, além do Carnaval no início de março, sem ser, como era de costume, no mês de fevereiro.

Sai ano, entra ano e novas ou velhas promessas são feitas, e muitas descumpridas, mais uma vez. Nesse calendário gregoriano do mundo ocidental – na contagem do tempo do povo judaico, estamos no ano 5785; na islâmica, 1446 – os dias, semanas e meses vão se acumulando sem muitas diferenças perceptíveis, às vezes tão somente no mudar das estações.

O ano somente será novo se a transformação acontecer dentro de cada um de nós, naquilo que precisamos melhorar no nosso jeito de ser, agir e falar. Nada mais antigo do que a insistência em velhos hábitos prejudiciais à saúde e ao convívio social, picuinhas e mágoas que remontam a décadas passadas, como se o tempo tivesse parado numa determinada situação e nada mais houvesse acontecido desde então.

Façamos o diferente para que diuturnamente tenhamos a capacidade de ficar um pouquinho melhor do que já somos, em nosso próprio benefício e daqueles que convivem conosco, sempre nos adaptando às circunstâncias inesperadas da vida, conforme me disse um amigo meu, após saber do resultado da Mega da Virada, que mudou seus projetos para 2025 da seguinte maneira: em vez da Disney, Parque Moscoso; Sea World – Projeto Tamar; saem Alpes Suíços, entra escalada do Mestre Álvaro; Shopping Vitória no lugar de Miami; Ilha das Caieras em vez das ilhas gregas; Caribe – Manguinhos e, finalmente, no lugar do Vaticano, entra o Convento da Penha.

Isso é que é conformação.

Desejo força e resistência para continuarmos enfrentando o que vier, de maneira que cheguemos em 2026 com a fé e a coragem sempre crescentes, pois a estrada da nossa existência é comprida, e só termina quando é cumprida.

Felicidades para todos!