quarta-feira, 30 de julho de 2025

Bem-vinda

 

Em diversos campos do conhecimento humano, discute-se sobre o nascer e o morrer, sendo este um conceito presente na biologia, na filosofia e na religião. No aspecto religioso, por exemplo, nascimento e morte fazem parte de um ciclo ou uma passagem, em que, para muitos, a diferença é somente de plano, seja ele material ou espiritual, de vida no além ou de reencarnação.

 

É claro que quando uma mulher dá à luz a alegria e as comemorações dos familiares e amigos são cheias de alegria. Não se imagina ninguém festejando a morte de um semelhante, por maior conformação que se possa ter. Por isso que a vinda de uma criança, depois de longos nove meses de gestação padrão, é motivo de tanta festa, desde a mãe (seja de primeira viagem ou não), passando pelo pai, avós e todos os demais envolvidos sentimentalmente com o acontecimento.

 

Me lembro quando as minhas filhas nasceram (81, 83 e 87) o quanto eu fiquei aéreo, olhando aquelas carinhas inocentes e sentindo uma realização pessoal até então inimaginável. Essas lembranças me vieram à memória ao saber que um jovem e querido casal de amigos – Pedro e Cris – recebeu na noite de ontem (29/07/25), em seu lar, mais uma criaturinha para que eles possam zelar, cuidar e encaminhar na seara do bem. Que missão! Que responsabilidade!

 

(A bolsa rompeu, foram para o hospital e a menina nasceu quando a mãe, em pé, aguardava os procedimentos burocráticos de internação. Ao pai, só restou observar e comentar depois com uma enfermeira que queria saber se ele estava bem: “Foi ótimo. Não senti dor nenhuma”. A avó paterna, porém, com a sensibilidade de uma artista, fez poesia: “A alegria está escorrendo pelos olhos”).

 

Acalentada e amparada com muito amor, ela desembarcou no planeta Terra numa noite fria de inverno. Contudo, cercada de todo o calor humano necessário ao seu pleno desenvolvimento físico e mental, com certeza irá crescer saudável e também cumprirá com a missão que a fez vir até nós. E assim caminha a humanidade: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há templo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Eclesiastes 3).

 

Vida longa e próspera, Mariana.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Bazófias

 

Pessoal, eu tinha um compromisso comigo mesmo de que não iria me imiscuir em assuntos de natureza política, principalmente considerando a polarização nefasta e extremista que domina atualmente o cenário nacional. Mas não aguentei quando li a carta que o presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, enviou ao chefe do Executivo brasileiro.

 

Eu sou uma pessoa que desde que me entendo por gente procuro acompanhar minimamente o que acontece no Brasil e no mundo, e nunca vi nada parecido. A princípio fiquei espantado, mas depois me deu vontade de rir tamanha a desfaçatez do tresloucado dirigente norte-americano, que acredita piamente que é o dono de tudo e de todos ao redor do planeta Terra.

 

Cumpre esclarecer que não sou lulista (já o fui, na minha juventude sindical) e muito menos bolsonarista. Tenho convicção de que nenhum dos dois me representa (e aí são diversos os motivos) e que a solução dos problemas nacionais não está nas mãos de uma ou duas pessoas supostamente ungidas por Deus, mas sim numa conjunção de objetivos maiores verdadeiramente em benefício da população, o que, a meu ver, ainda está longe de acontecer.

 

Mas, vamos combinar, tudo tem um limite, né!? Esse negócio de alguém querer cantar de galo no terreiro do outro é inadmissível. Isso não serve nem para as relações pessoais e muito menos para a convivência entre povos. Concordo em gênero, número e grau com o editorial da edição de hoje (10/07/25) do jornal Estado de São Paulo, que diz, entre outras coisas: “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”.

 

 Ao longo da caminhada humana, todos os impérios que existiram tiveram auge, decadência e fim. Os Estados Unidos são a única superpotência remanescente, mas tudo indica que o seu ocaso começou. O falecido historiador inglês Harold Perkin,  num artigo de 2002 intitulado A ascensão e queda dos impérios, ensina: “Impérios anteriores declinaram porque as elites se apropriaram de mais do que sua cota de renda e recursos e pagaram o preço em mal-estar interno, depressão, rebelião ou conquista externa. O americano é o primeiro império em que toda a população, embora de forma desigual, compartilha da exploração do mundo inteiro. O resto do mundo aceitará esse equilíbrio desigual? Ou se revoltará contra ser arrastado para o caos econômico e climático? Com a população mundial ultrapassando a marca dos 6 bilhões, mais de um terço vivendo na pobreza, certamente é hora de praticar a moderação”.

 

Que aqueles que se julgam donos da verdade e da razão possam ter discernimento suficiente para evitar o pior. Milhões dependem disso.