quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Rio Doce

 

Eis que o noticiário amanhece cheio de notícias a respeito dos 10 anos da tragédia de Mariana, quando uma barragem da empresa Samarco rompeu na localidade de Fundão e despejou toneladas de rejeitos de mineração nas comunidades próximas e nas águas do rio Doce, matando 19 pessoas, destruindo vilarejos e provocando um desastre ambiental que ainda não teve a devida reparação, e talvez nem tenha.

 

Uma década depois ninguém foi condenado pelo ocorrido. Alguns bilhões, dizem, foram aplicados em reparação ambiental, mas estudiosos garantem que a bacia hidrográfica da região está com sua biodiversidade irremediavelmente afetada. Em alguns locais, como no subdistrito de Bento Rodrigues, quantidades enormes de lama ainda ocupam ruas e casas, que foram abandonadas pelos antigos moradores.

 

Nas vésperas da COP 30, em Belém, onde lideranças mundiais almejam alcançar algum tipo de acordo para evitar danos cada vez maiores ao clima e à natureza de uma maneira em geral, é sintomático que o Brasil permaneça tendo esse passivo, em que populações inteiras tiveram suas vidas transformadas abruptamente para pior e sem perspectiva de algum tipo de compensação digna.

 

Em paralelo a essa efeméride negativa, leio outra matéria também a respeito do rio Doce, no trecho em que ele atravessava a cidade de Aimorés, em Minas Gerais, na divisa com o Espírito Santo. Anos atrás o curso de água, que passava no centro urbano, onde havia até um calçadão e área de lazer, foi desviado para construção de uma hidrelétrica. Atualmente restaram tão somente pedras e poças onde proliferam mosquitos e cobras. A prometida indenização ficou no papel, o que não causa estranheza, data vênia.

 

É triste. Fico a pensar em quão inglória é a luta de nossos ecologistas, que vivem de pequenas vitórias, mas quando a briga é com os cachorros grandes dos conglomerados econômicos ficam a ver navios. Em Rondônia, por exemplo, nos 34 anos em que morei por lá, vivenciei o avanço da pecuária e do agronegócio num desmatamento acelerado e incontrolável, que não tem mais volta.

 

Não quero parecer pessimista, mas se nada for feito, urgentemente, é capaz de chegarmos ao ponto de conhecermos rios, florestas e animais só de ouvir falar, sem contar o aumento da temperatura global. O que tiver de ser, será. Mas vamos nos preparando, tá!

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Em frente

 

 

Depois de um longo mas não tenebroso inverno, em que atravessei, pelo menos para mim, alguns dias mais frios dos últimos anos, inclusive com um diagnóstico de pneumonia e adinamia, caracterizada por uma sensação de cansaço constante, até mesmo ao acordar, eis-me de volta ao batente, com a disposição renovada e tocando em frente essa minha existência terrena, superando esses ciclos astrais de momentos bons e outros nem tanto, que homens e mulheres vivenciam cotidianamente.

 

Espero que meus inúmeros leitores fiéis (piadinha, tá!) tenham aguardado pacientemente, enquanto o blog permaneceu mais silencioso do que clausura de convento. Alguns abnegados amigos repaginaram a página, dando-lhe um visual mais clean, sem perder a característica da origem do Velho Porto, enquanto outros três empresários vitoriosos, meus chegados também, dos ramos médico-odontológico, cafeicultura e pizzaria, acharam por bem associar suas marcas vencedoras num apoio cultural a este escriba. Gratidão.

 

Foram exatos três meses de ausência, o que é demais até para um aprendiz de escritor, conforme é meu caso. No dizer do cantor visionário Zé Ramalho: “É praticando na vida que muito vai aprender”. Meu saudoso pai escrevia todos os dias, geralmente à mão. Chegou a ter um computador, mas não era muito adepto dos teclados e outras tecnologias. A primeira vez em que fui teclar, ainda acostumado com as antigas Remington pesadonas (eram feitas de ferro), botei tanta força que assustou o proprietário do equipamento.

 

Enfim, caminhamos devagar e sempre, vivendo e achando bom, “no passo do compasso dessa vida, a hora que se passa nunca mais é revivida, o passo verdadeiro que se pode dar na vida, é criar no coração, um amor que dure toda a vida” (Vivência, Jorge de Altinho).

 

Até breve, amigos e amigas.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Bem-vinda

 

Em diversos campos do conhecimento humano, discute-se sobre o nascer e o morrer, sendo este um conceito presente na biologia, na filosofia e na religião. No aspecto religioso, por exemplo, nascimento e morte fazem parte de um ciclo ou uma passagem, em que, para muitos, a diferença é somente de plano, seja ele material ou espiritual, de vida no além ou de reencarnação.

 

É claro que quando uma mulher dá à luz a alegria e as comemorações dos familiares e amigos são cheias de alegria. Não se imagina ninguém festejando a morte de um semelhante, por maior conformação que se possa ter. Por isso que a vinda de uma criança, depois de longos nove meses de gestação padrão, é motivo de tanta festa, desde a mãe (seja de primeira viagem ou não), passando pelo pai, avós e todos os demais envolvidos sentimentalmente com o acontecimento.

 

Me lembro quando as minhas filhas nasceram (81, 83 e 87) o quanto eu fiquei aéreo, olhando aquelas carinhas inocentes e sentindo uma realização pessoal até então inimaginável. Essas lembranças me vieram à memória ao saber que um jovem e querido casal de amigos – Pedro e Cris – recebeu na noite de ontem (29/07/25), em seu lar, mais uma criaturinha para que eles possam zelar, cuidar e encaminhar na seara do bem. Que missão! Que responsabilidade!

 

(A bolsa rompeu, foram para o hospital e a menina nasceu quando a mãe, em pé, aguardava os procedimentos burocráticos de internação. Ao pai, só restou observar e comentar depois com uma enfermeira que queria saber se ele estava bem: “Foi ótimo. Não senti dor nenhuma”. A avó paterna, porém, com a sensibilidade de uma artista, fez poesia: “A alegria está escorrendo pelos olhos”).

 

Acalentada e amparada com muito amor, ela desembarcou no planeta Terra numa noite fria de inverno. Contudo, cercada de todo o calor humano necessário ao seu pleno desenvolvimento físico e mental, com certeza irá crescer saudável e também cumprirá com a missão que a fez vir até nós. E assim caminha a humanidade: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há templo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Eclesiastes 3).

 

Vida longa e próspera, Mariana.