Eis que o noticiário amanhece cheio de notícias a respeito dos 10 anos da tragédia de Mariana, quando uma barragem da empresa Samarco rompeu na localidade de Fundão e despejou toneladas de rejeitos de mineração nas comunidades próximas e nas águas do rio Doce, matando 19 pessoas, destruindo vilarejos e provocando um desastre ambiental que ainda não teve a devida reparação, e talvez nem tenha.
Uma década depois ninguém foi condenado pelo ocorrido. Alguns bilhões, dizem, foram aplicados em reparação ambiental, mas estudiosos garantem que a bacia hidrográfica da região está com sua biodiversidade irremediavelmente afetada. Em alguns locais, como no subdistrito de Bento Rodrigues, quantidades enormes de lama ainda ocupam ruas e casas, que foram abandonadas pelos antigos moradores.
Nas vésperas da COP 30, em Belém, onde lideranças mundiais almejam alcançar algum tipo de acordo para evitar danos cada vez maiores ao clima e à natureza de uma maneira em geral, é sintomático que o Brasil permaneça tendo esse passivo, em que populações inteiras tiveram suas vidas transformadas abruptamente para pior e sem perspectiva de algum tipo de compensação digna.
Em paralelo a essa efeméride negativa, leio outra matéria também a respeito do rio Doce, no trecho em que ele atravessava a cidade de Aimorés, em Minas Gerais, na divisa com o Espírito Santo. Anos atrás o curso de água, que passava no centro urbano, onde havia até um calçadão e área de lazer, foi desviado para construção de uma hidrelétrica. Atualmente restaram tão somente pedras e poças onde proliferam mosquitos e cobras. A prometida indenização ficou no papel, o que não causa estranheza, data vênia.
É triste. Fico a pensar em quão inglória é a luta de nossos ecologistas, que vivem de pequenas vitórias, mas quando a briga é com os cachorros grandes dos conglomerados econômicos ficam a ver navios. Em Rondônia, por exemplo, nos 34 anos em que morei por lá, vivenciei o avanço da pecuária e do agronegócio num desmatamento acelerado e incontrolável, que não tem mais volta.
Não quero parecer pessimista, mas se nada for feito, urgentemente, é capaz de chegarmos ao ponto de conhecermos rios, florestas e animais só de ouvir falar, sem contar o aumento da temperatura global. O que tiver de ser, será. Mas vamos nos preparando, tá!