Parece,
e não só parece, mas é uma realidade, que quanto mais velho a gente fica, mais aumenta
a possibilidade de termos que lidar com a morte de algum ente querido (pais,
mães, tios, parentes em geral e até amigos da mesma idade, mais velhos ou mais
novos).
O
fim da existência humana é um tremendo paradoxo, pois nascemos no caminho da morte,
e vivemos sabendo dessa irreversibilidade. Porém, não é fácil encarar esse fato
do qual inexiste a possibilidade de escapar.
Preparar
a gente mesmo e aqueles que nos cercam para o fim é um desafio da humanidade.
Muitas culturas, desce cedo, têm esse cuidado, e o falecimento de alguém não é
encarado com desespero ou lamúrias. Outras, fazem do choro descontrolado uma
forma de lamento.
Recentemente,
acompanhei quatro (três homens e uma mulher) irmãos e meus amigos queridos ao
velório e sepultamento do pai deles. A firmeza e controle da família muito me
impressionou. Apesar da tristeza natural daqueles momentos, nenhum deixou que a
dor tomasse conta de forma incontrolável.
Naquela
cidade do interior baiano, onde o ele era médico, constatei positivamente algo
que sempre me preocupou, e que vi acontecer também com meu próprio pai, 20 anos
atrás: qual o legado que fica?
Tanto
o pai dos meus amigos quanto meu próprio pai foram homens simples, mas que
buscaram, nos seus respectivos ramos de atuações, dar o melhor de si mesmo e
fazer o bem por seus semelhantes. As imperfeições que temos, no caso deles,
foram superadas pelas boas qualidades, sempre colocadas à frente.
Vi
o cortejo fúnebre passar diante dos dois hospitais onde o médico abnegado
trouxe ao mundo centenas de crianças, provavelmente milhares, e constatei a
comoção verdadeira que aquelas pessoas – funcionários administrativos, técnicos,
auxiliares, enfermeiros e médicos – estavam sentido, tudo demonstrado nas
palavras que foram ditas e nas lágrimas derramadas. Num deles, pétalas de rosas
foram lançadas sobre o carro funerário.
Além
disso, no templo espírita religioso da fé que ele escolheu para si, que é a
minha também, depoimentos comovidos marcaram o reconhecimento àquele que
iniciou, décadas atrás, renunciando, muitas vezes, a atender às suas próprias
vontades, agindo em função dos outros e não por interesse próprio, um trabalho
que cresceu e frutificou em todo o sul da Bahia.
Portanto,
já que morreremos inevitavelmente quando a hora chegar, façamos igual a esse
cidadão de bem, e a muitos outros que aqui também passaram e os que ainda estão
pelejando em cima da Terra: pratiquemos o bem, sem interesse e sem olhar a
quem, pois a recompensa virá, seja nesse plano material ou seja no plano
espiritual, onde hoje se encontra, amparado por Deus, o Dr. Caio Mário Ferraz
da Silva.