quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Em frente

 

 

Depois de um longo mas não tenebroso inverno, em que atravessei, pelo menos para mim, alguns dias mais frios dos últimos anos, inclusive com um diagnóstico de pneumonia e adinamia, caracterizada por uma sensação de cansaço constante, até mesmo ao acordar, eis-me de volta ao batente, com a disposição renovada e tocando em frente essa minha existência terrena, superando esses ciclos astrais de momentos bons e outros nem tanto, que homens e mulheres vivenciam cotidianamente.

 

Espero que meus inúmeros leitores fiéis (piadinha, tá!) tenham aguardado pacientemente, enquanto o blog permaneceu mais silencioso do que clausura de convento. Alguns abnegados amigos repaginaram a página, dando-lhe um visual mais clean, sem perder a característica da origem do Velho Porto, enquanto outros três empresários vitoriosos, meus chegados também, dos ramos médico-odontológico, cafeicultura e pizzaria, acharam por bem associar suas marcas vencedoras num apoio cultural a este escriba. Gratidão.

 

Foram exatos três meses de ausência, o que é demais até para um aprendiz de escritor, conforme é meu caso. No dizer do cantor visionário Zé Ramalho: “É praticando na vida que muito vai aprender”. Meu saudoso pai escrevia todos os dias, geralmente à mão. Chegou a ter um computador, mas não era muito adepto dos teclados e outras tecnologias. A primeira vez em que fui teclar, ainda acostumado com as antigas Remington pesadonas (eram feitas de ferro), botei tanta força que assustou o proprietário do equipamento.

 

Enfim, caminhamos devagar e sempre, vivendo e achando bom, “no passo do compasso dessa vida, a hora que se passa nunca mais é revivida, o passo verdadeiro que se pode dar na vida, é criar no coração, um amor que dure toda a vida” (Vivência, Jorge de Altinho).

 

Até breve, amigos e amigas.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Bem-vinda

 

Em diversos campos do conhecimento humano, discute-se sobre o nascer e o morrer, sendo este um conceito presente na biologia, na filosofia e na religião. No aspecto religioso, por exemplo, nascimento e morte fazem parte de um ciclo ou uma passagem, em que, para muitos, a diferença é somente de plano, seja ele material ou espiritual, de vida no além ou de reencarnação.

 

É claro que quando uma mulher dá à luz a alegria e as comemorações dos familiares e amigos são cheias de alegria. Não se imagina ninguém festejando a morte de um semelhante, por maior conformação que se possa ter. Por isso que a vinda de uma criança, depois de longos nove meses de gestação padrão, é motivo de tanta festa, desde a mãe (seja de primeira viagem ou não), passando pelo pai, avós e todos os demais envolvidos sentimentalmente com o acontecimento.

 

Me lembro quando as minhas filhas nasceram (81, 83 e 87) o quanto eu fiquei aéreo, olhando aquelas carinhas inocentes e sentindo uma realização pessoal até então inimaginável. Essas lembranças me vieram à memória ao saber que um jovem e querido casal de amigos – Pedro e Cris – recebeu na noite de ontem (29/07/25), em seu lar, mais uma criaturinha para que eles possam zelar, cuidar e encaminhar na seara do bem. Que missão! Que responsabilidade!

 

(A bolsa rompeu, foram para o hospital e a menina nasceu quando a mãe, em pé, aguardava os procedimentos burocráticos de internação. Ao pai, só restou observar e comentar depois com uma enfermeira que queria saber se ele estava bem: “Foi ótimo. Não senti dor nenhuma”. A avó paterna, porém, com a sensibilidade de uma artista, fez poesia: “A alegria está escorrendo pelos olhos”).

 

Acalentada e amparada com muito amor, ela desembarcou no planeta Terra numa noite fria de inverno. Contudo, cercada de todo o calor humano necessário ao seu pleno desenvolvimento físico e mental, com certeza irá crescer saudável e também cumprirá com a missão que a fez vir até nós. E assim caminha a humanidade: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há templo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Eclesiastes 3).

 

Vida longa e próspera, Mariana.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Bazófias

 

Pessoal, eu tinha um compromisso comigo mesmo de que não iria me imiscuir em assuntos de natureza política, principalmente considerando a polarização nefasta e extremista que domina atualmente o cenário nacional. Mas não aguentei quando li a carta que o presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, enviou ao chefe do Executivo brasileiro.

 

Eu sou uma pessoa que desde que me entendo por gente procuro acompanhar minimamente o que acontece no Brasil e no mundo, e nunca vi nada parecido. A princípio fiquei espantado, mas depois me deu vontade de rir tamanha a desfaçatez do tresloucado dirigente norte-americano, que acredita piamente que é o dono de tudo e de todos ao redor do planeta Terra.

 

Cumpre esclarecer que não sou lulista (já o fui, na minha juventude sindical) e muito menos bolsonarista. Tenho convicção de que nenhum dos dois me representa (e aí são diversos os motivos) e que a solução dos problemas nacionais não está nas mãos de uma ou duas pessoas supostamente ungidas por Deus, mas sim numa conjunção de objetivos maiores verdadeiramente em benefício da população, o que, a meu ver, ainda está longe de acontecer.

 

Mas, vamos combinar, tudo tem um limite, né!? Esse negócio de alguém querer cantar de galo no terreiro do outro é inadmissível. Isso não serve nem para as relações pessoais e muito menos para a convivência entre povos. Concordo em gênero, número e grau com o editorial da edição de hoje (10/07/25) do jornal Estado de São Paulo, que diz, entre outras coisas: “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”.

 

 Ao longo da caminhada humana, todos os impérios que existiram tiveram auge, decadência e fim. Os Estados Unidos são a única superpotência remanescente, mas tudo indica que o seu ocaso começou. O falecido historiador inglês Harold Perkin,  num artigo de 2002 intitulado A ascensão e queda dos impérios, ensina: “Impérios anteriores declinaram porque as elites se apropriaram de mais do que sua cota de renda e recursos e pagaram o preço em mal-estar interno, depressão, rebelião ou conquista externa. O americano é o primeiro império em que toda a população, embora de forma desigual, compartilha da exploração do mundo inteiro. O resto do mundo aceitará esse equilíbrio desigual? Ou se revoltará contra ser arrastado para o caos econômico e climático? Com a população mundial ultrapassando a marca dos 6 bilhões, mais de um terço vivendo na pobreza, certamente é hora de praticar a moderação”.

 

Que aqueles que se julgam donos da verdade e da razão possam ter discernimento suficiente para evitar o pior. Milhões dependem disso.